Crônica de um Careta (Nova Versão)

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Tenho que admitir: sou um careta — e não me envergonho disso. Aliás, em tempos como os de hoje, talvez ser careta seja um ato revolucionário.

Sim, sou daquele tempo (e como é bom começar assim!) em que os pais ensinavam os filhos a respeitarem os mais velhos. E não era um respeito automático, cego, mas sim aquele que começa no olhar, na escuta, na atenção. Criei meus filhos assim — com respeito por quem merece respeito. Pode parecer antiquado, mas continuo achando isso uma boa base para o convívio humano.

Apesar das broncas e das palmadas que levei, ainda assim, acredito que correções, quando feitas com equilíbrio, são formas de proteção. Proteção contra o cinismo, contra o individualismo, contra a indiferença — males modernos que se disfarçam de liberdade, mas nascem, muitas vezes, da ausência de limites.

Fui criado cantando o Hino Nacional na escola. Sabia a letra inteira — e ainda sei. Hoje, quando ouço aquele início solene em alguma cerimônia e percebo que quase ninguém canta junto, me pergunto se é patriotismo que falta ou se é só apatia mesmo. Ser patriota hoje é cafona? Então me chamem de cafona também.

Acredito que alunos devem respeitar professores. Que quem agride verbal ou fisicamente um educador deveria, no mínimo, repensar sua presença em sala. Isso me torna antiquado? Ótimo. Prefiro a sala de aula cheia de respeito do que de arrogância.

Tenho saudades das peladas na rua, jogadas descalço. Das bolinhas de gude. Das brincadeiras de pique. De ouvir minha mãe gritar da janela que já estava na hora de entrar.

Hoje, crianças têm agendas de executivos, telas de todas as cores, mas poucas histórias para contar. A infância virou coisa rara — e a nostalgia, quase uma denúncia.

Nunca fumei um baseado, mesmo com muitos amigos insistindo que quem não fumava era um careta escrachado. Continuo amigo de vários deles até hoje — e não deixei de gostar de ninguém por isso. Mas também nunca precisei me enquadrar para ser aceito. O máximo que me permito é uma cerveja bem gelada entre amigos — e, sinceramente, isso me basta.

No trabalho, sempre fui do tipo que pede para sair se não estiver satisfeito. Não sou do time dos que fazem corpo mole esperando uma demissão. Não julgo quem age assim — mas sigo preferindo a honestidade, mesmo quando ela dói no bolso.

Nunca aceitei falcatruas. Nunca paguei suborno. Sempre soube distinguir o que era meu e o que não era. E isso, acredite, tem me custado caro — mas me deixa dormir em paz.

Detesto quando falam mal do meu país com aquele ar de superioridade importada. Pode-se criticar, claro. Mas amar o Brasil ainda me parece um bom começo para querer mudá-lo. Amo esta terra — com todas as suas imperfeições. E, sim, não trocaria por nenhuma outra.

Sou tão careta que ainda gosto de cinema no escuro, de livros no silêncio, de amigos ao vivo. E ando meio de mal com as redes sociais. O WhatsApp, que antes era atalho para a aproximação, virou desculpa para o afastamento. Tenho amigos que não ligam mais. Daqui a pouco, não vou mais reconhecer suas vozes.

Sou tão careta que ainda acredito no poder da palavra falada, no valor de um gesto sincero, na força de uma amizade construída no tempo e não no algoritmo.

E por isso escrevo este texto — para amigos caretas ou não. Para lembrar que, talvez, ser careta hoje seja apenas não ter desistido de ser gente.

Um abraço a todos.

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