Dedicado a minha irmã Mary, por Gil DePaula
Nossa família, além dos nossos pais, era composta por cinco irmãos. Em um belo dia de sábado, de sol forte e poucas nuvens no céu, recebemos alguns visitantes já esperados, trazidos por uma parente do meu pai: uma velha senhora bastante rabugenta e um papagaio que lhe pertencia, e que, conforme combinado, passaríamos a tutelar. O bichinho, honrando o que se espera dele – ou quase isso –, reproduzia um som cujo significado nunca entendemos bem: “Pá, Pá, Ai, Ai”, som este que, ao longo dos trinta e sete anos que convivemos com ele, jamais descobrimos o que queria nos contar.
Para quem não sabe, o papagaio pode viver até cem anos. Ele também é conhecido como louro, apesar de sua cor predominantemente verde. A ave, pertencente à ordem dos psitaciformes (nomezinho feio pra burro), tornou-se muito famosa pela sua capacidade de aprender a falar praticamente igual aos homens. É o único animal domesticado capaz de reproduzir palavras, frases e até músicas na língua humana. Porém, não se surpreenda caso a ave que você comprou não faça essas coisas, pois apenas 15% dos papagaios realmente possuem essa capacidade.
A primeira das minhas três irmãs adotou de imediato o papagaio e passou a cuidar dele, demonstrando tal afeto que muitas vezes nos deixava enciumados. Entretanto, não podemos negar que a ave correspondia ao amor que ela lhe devotava. À simples aproximação da minha irmã, o bichinho abaixava a cabeça, suas penas arrepiavam, e o famoso “Pá, Pá, Ai, Ai” repetia-se.
Já à aproximação de outra pessoa, o emplumado animalzinho não se fartava de distribuir bicadas “a torto e a direito”, fazendo os distraídos sofrerem, nos dedos, as consequências dos seus atrevimentos.
Minha irmã, na fase pré-adolescente – e até pós –, adorava as melosas músicas de Roberto Carlos. O louro, sem nenhum constrangimento, passou a reproduzir vários versos musicais do cantor. À menor incitação, soltava a plenos pulmões as rimas de “Detalhes”, que pareciam ser suas preferidas:
“Não adianta nem tentar me esquecer,
Durante muito tempo em sua vida,
Eu vou viver.”
E, apesar da voz esganiçada, todos nós admirávamos a capacidade de cantoria da ave, bem como sabíamos que ela viveria muito tempo fazendo parte das nossas vidas.
Passados vários anos, eu, já casado e morando em outra casa, recebi um telefonema da minha irmã, que, em prantos, me avisou: o papagaio morreu! A ave, que esperávamos que vivesse mais do que nós, bateu as botas — ou melhor, bateu as asas — e foi morar no paraíso dos emplumados.
Querendo consolar minha irmã, disse-lhe:
— Não fique assim! Depois você compra outro.
Porém, a resposta veio contundente:
— Que é isso, meu irmão! Eu sou fiel. Não sou mulher de ter dois papagaios.
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Terras dos Homens Perdidos, de Gil DePaula, é uma ficção histórica que explora a fundação de Brasília e o impacto da construção da nova capital na vida de brasileiros comuns. A narrativa é ambientada entre 1939 e 1960 e segue o drama de Maria Odete, uma mulher forte e resiliente, que relembra seu passado de desafios e desilusões enquanto enfrenta as dores do parto. Sua trajetória é entrelaçada com a história de dois fazendeiros rivais e orgulhosos, ambos chamados Antônio, que lutam pelo poder em meio a uma teia de vingança, traição e tragédias pessoais.
A obra destaca o cenário do interior brasileiro e a saga dos trabalhadores que ergueram Brasília com suor e sacrifício. Gil DePaula usa seu estilo detalhista para pintar um retrato das complexas interações humanas e sociais da época, onde paixões e rivalidades moldam o destino de seus personagens e refletem as transformações de uma nação. A obra combina realismo com uma narrativa de intensa carga emocional, capturando tanto a grandeza da construção da capital quanto as pequenas tragédias pessoais que marcaram sua fundação.
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Gil,
Me lembro deste papagaio, já bicou meu dedo!
😅😅😅
Wan Morais