Chelsea Ake-Salvacion trabalhava havia três anos em um centro de beleza em Las Vegas, nos Estados Unidos, que oferecia tratamentos de crioterapia. Há pouco mais de um mês, a jovem de 24 anos estava sozinha à noite no estabelecimento e decidiu experimentar uma das câmaras de crioterapia: Morreu congelada depois de ficar presa no equipamento por várias horas.
A crioterapia é uma técnica que se consiste em uma exposição de poucos minutos a temperaturas abaixo de zero, o que traria benefícios para a saúde.
A morte de Chelsea, abriu um debate nos Estados Unidos sobre a segurança desta técnica pouco estudada, e que nos últimos anos vem ganhando popularidade entre esportistas de elite e estrelas de Hollywood. Seus defensores asseguram que a crioterapia serve para o tratamento de dores corporais e acelera a recuperação física, além de emagrecer, melhorar o sistema imunológico, retardar o envelhecimento e aumentar a disposição. Os supostos benefícios não são consenso, no entanto, entre membros da comunidade científica.
150 graus negativos
A chamada crioterapia do corpo completo consiste em entrar durante dois ou três minutos em um tanque cilíndrico ou numa câmara similar a uma sauna a vapor que se enche de gás de nitrogênio, chegando a temperaturas de até 150ºC negativos. Foi desenvolvida nos anos 1970, no Japão, pelo médico Toshima Yamauchi, que começou a usar a técnica no tratamento de pacientes com artrite reumatoide.
A crioterapia do corpo completo é diferente da crioterapia simples, uma técnica médica reconhecida que consiste em aplicar nitrogênio líquido em algumas partes do corpo para, por exemplo, matar tecidos cancerosos.
Centros de beleza se espalharam, nos últimos anos, pelas principais cidades dos Estados Unidos, oferecendo sessões por 60 dólares.
Se, tradicionalmente, esportistas de elite mergulham em banhos de gelo após partidas para acelerar sua recuperação física, hoje alguns têm substituído a prática por sessões crioterápicas – mesmo não havendo estudos decisivos sobre a efetividade desta técnica.
Após a morte de Chelsea Ake-Salvacion, as autoridades de Nevada prometem investigar os níveis de segurança desta técnica e seus aparatos.
Segundo o jornal The New York Times, o caso de uma mulher que afirma ter sofrido queimaduras de terceiro grau dentro de uma das câmaras será levado a um tribunal no Texas, neste mês de janeiro.
‘Um pouco de medo’
O jornalista Seth Abramovitch teve a chance de provar a técnica em um dos centros mais populares de Los Angeles, e afirmou: “Dá um pouco de medo, porque uma vez que você está dentro da câmara ela começa a se encher de gás de nitrogênio e não se consegue enxergar nada”, diz. “Aí a umidade do seu corpo se evapora. Você não pode estar vestindo nada, porque o suor que fica na roupa se congelaria e as peças se colariam a seu corpo. Você se sente vulnerável pelado ali. Eu pensava no que aconteceria se a porta travasse… senti medo. ” Ele continua: “A temperatura baixa afeta o corpo de repente e ele entra em estado de choque. Ao sair da câmara você sente o corpo quente e a pele descascando”.
Abramovitch assegura que não notou nenhum benefício em particular, ainda que os responsáveis pelo centro de crioterapia tenham dito que a técnica só é efetiva depois de o paciente se submeter a no mínimo duas sessões.