Por Gil DePaula
Na cultura brasileira, a Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.
A expressão nasceu em meados da década de 80 quando o jornalista Maurício Dias entrevistava o professor e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa para a revista Isto É. Na entrevista, Dias batizou como “Lei de Gérson” o desejo que grande parte dos brasileiros tem de levar vantagem em tudo, a partir de um comercial de TV, protagonizado Por Gérson, jogador de futebol que, em 1970, foi considerado o cérebro da seleção brasileira.
No comercial um entrevistador pergunta para Gérson por que escolheu os cigarros Vila Rica, então, ele saca um maço do cigarro, oferece ao entrevistador e diz: “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!”.
Recentemente, uma loja de Natal, no Rio Grande do Norte, errou no preço de uma TV Smart de 55 polegadas e a anunciou a R$ 279,00. É lógico que choveu de pessoas para comprar o aparelho, conscientes, sem dúvidas, que a loja se enganara no preço. Legalmente, elas podiam exigir, como o fizeram, que a loja vendesse os televisores ao preço anunciado. Essas pessoas estavam dentro da legalidade lhes fornecida pelo Procon. Mas pergunto: agiram eticamente? Agiram moralmente? A conduta desses brasileiros foi execrada até no exterior.
O agiota, é outro aproveitador sem escrúpulos, que aproveita-se da situação de desespero de algumas pessoas, para lhes empurrar bolso adentro juros extorsivos. Toda vez que um “cliente” lhe procura, certamente, ele pensa: “mais um trouxa, mais um peixe na minha rede.
Em busca de assegurar vantagens que sabem não merecer, muitos se tornam acusadores:
• “Problema dele! Quem mandou errar no preço?”
• “Problema dele! Que mandou não ser econômico?”
• “Problema dele! Por que não resolveu essa questão antes?”
• “Problema dele! A lei está do meu lado, eu estou agindo conforme ela determina.”
Como disse antes, várias das nossas atitudes podem estar cobertas pelo manto da legalidade, mas serão éticas? Serão morais? Realizamos algo que nos tornasse merecedor de uma vantagem indevida em prejuízo a outrem? Ou apenas estamos nos servindo de uma oportunidade para levarmos vantagem? Ou somente mais uma vez estamos aplicando “A Lei de Gérson” às nossas vidas?
A vida, é composta de engrenagens, que dia a dia, dão voltas sobre elas mesmas. Em uma dessas voltas, provavelmente, aquilo que obtemos esquecendo a ética nos será tirado e nos será acrescentado o que fizemos por merecer, pois a Lei Universal da compensação sempre se fará presente.
No futuro, poderemos lamentar uma situação que estamos passando, talvez, nesse dia, lembraremos das atitudes que tomamos no pretérito.