A incidência de depressão entre as mulheres é cerca de duas vezes maior que entre os homens. Agora, um novo estudo publicado na revista científica Brain, Behavior e Immunity fornece evidências preliminares de que essa diferença está relacionada à função imunológica do organismo. A pesquisa também ajuda a explicar porque as mulheres que fazem uso de contracepção hormonal enfrentam um risco aumentado de depressão.
“Algumas moléculas liberadas no cérebro em resposta à inflamação no organismo podem proteger os neurônios e promover a saúde dessas células”, explicou o autor do estudo, Jonathan Savitz, pesquisador do “Laureate Institute for Brain” e professor da Universidade de Tulsa. “Essas moléculas são conhecidas como “neuroprotetoras “. No entanto, outras moléculas produzidas pela inflamação podem ter efeitos nocivos no cérebro, isto é, são “neurotóxicas”. “Duas moléculas diferentes produzidas pela inflamação, ácido quinurênico (KynA), que é neuroprotector, e o ácido quinolínico (QA), que é neurotóxico, têm efeitos diferentes nos receptores NMDA no cérebro”, disse Savitz. “Constantemente encontramos concentrações reduzidas de KynA no soro de indivíduos com depressão”.
“Além disso, maiores níveis de metabolitos neurotóxicos de quinurenina foram consistentemente associados a anormalidades cerebrais estruturais e funcionais na depressão. Assim, nós e outros apresentamos a hipótese de que o metabolismo anormal da quinurenina pode ser um meio final através do qual a inflamação leva à depressão”.
“Encontramos níveis mais baixos de metabolitos neuroprotetores em mulheres”, explicou Savitz. “Isso é interessante, dado que mulheres e homens diferem substancialmente em seus sistemas imunológicos e a incidência de depressão é aproximadamente duas vezes maiores em mulheres”.
Nesse novo estudo, com amostra de 130 homens e 350 mulheres, os pesquisadores descobriram que mulheres saudáveis e deprimidas tinham níveis significativamente mais baixos de ácido quinurênico em relação aos homens. Adicionalmente, as mulheres que fazem uso de contraceptivos orais tiveram uma maior redução no ácido cinogenético em comparação com as mulheres que não estavam sob qualquer forma de controle de natalidade hormonal.
“Historicamente, a maior taxa de depressão em mulheres foi atribuída a fatores psicossociais e hormonais. No entanto, dadas as diferenças significativas na função imune entre homens e mulheres (há muitos trabalhos sobre este assunto), o sistema imunológico ou uma interação entre o sistema imunológico e outros fatores (por exemplo, hormonal) podem explicar em parte as diferenças entre sexo na epidemiologia da depressão”. Entretanto, o design do estudo evita que os pesquisadores façam conclusões sobre causa e efeito.
“Este foi um estudo transversal e, portanto, os resultados são correlacionais, não necessariamente causais”, disse Savitz. “Em segundo lugar, não controlamos o tipo de contraceptivo oral ou a duração de seu uso. Em terceiro lugar, o tamanho da amostra para a análise da fase menstrual foi pequeno demais para tirar conclusões”. Mas estudos adicionais podem ajudar os profissionais de saúde mental a determinar como a função imune se relaciona com a depressão. “Este é um achado que vale a pena investir. Estudos epidemiológicos de grande escala ou projetos prospectivos são necessários para levar adiante essa pesquisa “, observou Savitz.