Bolsonaro e o Voto “Envergonhado”

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Segundo pesquisas, há entre 8% e 10% do eleitorado que votaria no Bolsonaro, mas não têm coragem de declarar isso

O número de eleitores que, por algum motivo, não divulgam com antecedência a escolha na urna, pode decidir as eleições presidenciais no país. O voto “envergonhado” passou a ser tratado com maior destaque após a vitória de Donald Trump à presidência dos EUA e, agora, no Brasil, tem potencial para fazer a diferença para o candidato Jair Bolsonaro (PSL). Especialistas divergem, principalmente porque é difícil mensurar o impacto do fenômeno na eleição brasileira.

É o que explica o professor e cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Monteiro. Para ele, que também é coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), o voto envergonhado é um fenômeno que se apresenta colado aos candidatos com expressão eleitoral e mais alinhados a pensamentos e propostas consideradas radicais. “Quando ele ganha algum volume, o candidato começa a se deparar com outros públicos, além dos que são fiéis. A vergonha aparece quando, em algumas circunstâncias, o eleitor de centro decide votar em determinado candidato, mas não confessa”, explica. No entanto, o acadêmico acredita que o capitão reformado do Exército está no “patamar esperado”: “Não acredito que as pesquisas surpreendam tanto”, defende.

O professor de ciência política e pesquisador da UnB David Fleischer discorda, e considera que Bolsonaro pode apresentar uma percentagem razoável de votos envergonhados. Ele diz que o presidenciável do PSL está mais para Donald Trump do que para Marine Le Pen, da direita radical francesa. Diferentemente do candidato norte-americano que ganhou as eleições, a candidata à presidência da França não logrou vitória e também não obteve um número expressivo de votos não contabilizados pelas pesquisas eleitorais. “Ele (Bolsonaro) deve ter alguns, temos de esperar pra ver. Mas deve ter mais votos envergonhados do que (Marine) Le Pen”, afirma.

 

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Os votos de quem não se assume eleitor de Bolsonaro e dos indecisos são cobiçados pela alta cúpula da campanha do candidato — estratégia que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do candidato, deixou claro. Para conseguir ganhar o máximo possível desses votos, pessoas ligadas ao presidenciável sondaram o marqueteiro político norte-americano Arick Wierson, que trabalhou na campanha do ex-prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg, para traçar novas estratégias e tentar uma vitória no primeiro turno.

“Uma pesquisa feita internamente por mim e por pessoas da minha equipe, desde o dia do ataque, mostram que há entre 8% e 10% do eleitorado que votaria no Bolsonaro, mas não têm coragem de declarar isso”, explica Wierson. O estrategista político destaca ainda que, para agradar a esse eleitorado, a imagem do postulante ao Planalto deverá ser mais “branda e democrática”. O interesse pela mudança, que parte de Eduardo e do irmão Flávio, deixou a equipe achada. Segundo fontes ligadas à campanha, porém, os filhos do militar decidirão a estratégia.

Escolha útil
Segundo Paulo Calmon, professor de ciência política da Universidade de Brasília, o “voto útil ou estratégico” também é um fator que precisa ser avaliado. Esse tipo de voto se dá quando o cidadão decide escolher um representante que acredita ter chance maior de vencer o candidato que ele mais rejeita. Porém, isso só se manifesta mais perto da eleição. “Se o eleitor sentir que Bolsonaro tem mais chance de ganhar do candidato que ele não gosta, ele vai votar no Bolsonaro, por exemplo”, adverte.

A expectativa de que o candidato do PSL conseguisse captar votos a partir da comoção popular, como ocorreu em 2014 após a morte do presidenciável Eduardo Campos, frustrou a previsão de analistas políticos, defende David Fleischer. “Ele não subiu tanto por causa da rejeição”, avalia. No levantamento divulgado pelo Ibope nesta semana, porém, os números apontam para uma tendência de crescimento do deputado federal.

Fonte: Correio Braziliense

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