Por Gil DePaula
Em agosto de 1973, em plena ditadura militar, foi surpreso e até um pouco chocado, que assisti na televisão, a estreia da banda Secos e Molhados. No palco, três homens pintados e travestidos, dançavam e rebolavam sem nenhum pudor, e seu vocalista; Ney Matogrosso, carregava nos trejeitos femininos, ao som da música “O Vira”, hipnotizando a quantos o assistiam.
Imediatamente, a banda se tornou um fenômeno de vendas para a época, e seu primeiro LP, da mesma forma que a banda, chamado de “Secos e Molhados”, vendeu mais de um milhão de cópias pelo país (mais de mil e quinhentas, somente na primeira semana).
Nessa época, era comum em Brasília, os bailinhos, muito concorridos, nas casas desses ou daqueles, que passaram a tocar, principalmente, “O Vira”, que era a música mais dançante.
Para mim, a melhor música do disco é “Rosa de Hiroshima”, uma balada triste, que levanta a bandeira pacifista e antinuclear. A letra compara a rosa, à bomba atômica, e na voz inigualável de Ney Matogrosso, se torna esplendorosa.
A Rosa de Hiroshima é um poema escrito pelo cantor e compositor Vinicius de Moraes. O poema recebeu esse nome como um protesto sobre as explosões de bombas atômicas ocorridas na cidade de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Criado em 1946, o poema foi primeiro publicado no livro Antologia Poética. Mais tarde, em 1973, os versos foram musicados e ganharam corpo na voz do grupo Secos e Molhados.
O álbum de estreia do grupo unia a poesia de autores como Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira e João Apolinário (pai de João Ricardo, que idealizou o grupo), com danças e canções do folclore português e de tradições brasileiras. Traz as músicas mais famosas: “Sangue Latino”, “O Vira”, “Assim Assado” e “Rosa de Hiroshima”.
O disco inovou o estilo musical da música popular brasileira com um som mais pesado que o usual e com o uso de maquiagem forte na capa, que remete ao glam rock, e desenvolveu gêneros como o pop psicodélico e o folk.
Também recebeu a certificação de disco de platina em 1997 da ABPD pelo relançamento em CD.
Quinto lugar na Lista dos 100 maiores discos da música brasileira da Rolling Stone Brasil em 2007 e a 97.ª posição no “Los 250: Essential Albums of All Time Latin Alternative – Rock Iberoamericano” da Al Borde de 2008, provam que o disco continua a ser popular e criticamente admirado nos dias de hoje.
Em carreira solo, Ney Matogrosso continua a encantar os brasileiros, com sua voz única e suas performances inigualáveis e inesquecíveis.
Letra da “A Rosa de Hiroshima”
Letra da “A Rosa de Hiroshima”
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh! não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
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Com certeza a banda brasileira mais chocante de sua época.
Conheci ainda na infância, por influência do meu pai.
Pena que lançou apenas dois álbuns.
Realmente, dois álbuns foi pouco.