Crônica da Família: O Vovô Marcílio

Por Gil DePaula

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Dentre os parentes que as pessoas possuem mais carinho estão os avós. Eles, geralmente, são aquelas pessoas curtidas pelo tempo, cuja experiência de vida lhes dá um olhar de sabedoria e meiguice que envolve, inexoravelmente, os netos, proporcionando-lhes uma sensação única de bem-estar e bem-querer, cuja retribuição acontece naturalmente por parte dos seus novos descendentes.

Eu convivi muito pouco com meus avós, por morar em Brasília desde os dois anos de vida, enquanto eles permaneciam em sua cidade natal, Aracaju, no Sergipe.

É com muita satisfação que me recordo da primeira vez em que vi meus avós por parte de pai, quando eu contava nove anos vividos. Em contraste com minha avó Emídia, que era uma pessoa delicada, meu avô Marcílio, de cara, demonstrou ser uma pessoa decidida. Lembro que, ao chegar em minha casa, buscado que fora na rodoviária de Brasília por meu pai, me disse: “Você sabe quem eu sou?” E, sem esperar a resposta: “Sou seu avô. Me peça a ‘bença’.” Fui prontamente atendê-lo.

Entretanto, o que mais admirei em meu avô, anos depois, foi a retidão de caráter que, em algumas ocasiões, ele demonstrou, sendo eu testemunha presencial.

Lembro-me, particularmente, de um fato: já rapaz, em uma visita que fiz a Aracaju, saímos, eu e ele, para comprar um móvel de que ele necessitava. Ao chegarmos à loja, ele apressou os valores e decidiu adquiri-lo. Porém, o vendedor lhe disse que precisava de um fiador, pois algumas prestações seriam financiadas. Foi então que meu avô, em pura indignação, explodiu: “Eu sou homem! Minha palavra basta. Se estou comprando é porque tenho condição de pagar. Nunca perturbei ninguém, e não vai ser agora que vou começar.” Deixando o vendedor sem ação. Entretanto, o gerente da loja, que acompanhava atentamente o desenrolar da negociação, virou-se para o vendedor e disse: “Pode vender para ele sem fiador”, resolvendo a questão.

Meu avô, apesar do pouco estudo que teve, era dono de uma memória privilegiada, que lhe permitia lembrar de fatos passados, dizendo o dia e o ano em que ocorreram. Também imitava pássaros, contava “adivinhações” e longas histórias rimadas, que pareciam não ter fim. Possuía, ainda, a paixão pela literatura de cordel, muito tradicional nas plagas nordestinas.

Hoje, gostaria de tê-lo perto de mim e poder beber da fonte da história dele. Beber dos seus conhecimentos, da sua experiência de vida, das suas histórias, com o intuito de transformá-las em aprendizado para todos. Certamente, todos nós ficaríamos um pouco mais ricos de conhecimento e sabedoria.

Que todos os nossos avós continuem a viver em nossos corações e sejam abençoados por toda a eternidade.

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7 Comentários

  1. Nosso avô era realmente um homem de muita riqueza de conhecimentos vividos pelos seus longos anos de muito trabalho e peleja da vida, homem de poucas posses, via na honestidade e no orgulho de dizer que ‘ Jamais coloquei um copo de cerveja ou cigarro em minha boca” seus grandes valores.
    Também sinto falta de sua presença, de suas histórias e de sua voz rouca acompanhada de um pigarro que eu não escapei de ter.
    Que Deus o tenha, nosso velho Marcílio.

  2. Adilson de Paula Maria

    Não tive o privilégio de conviver com ele, o contato que tivemos foi em uma visita de alguns dias em Aracaju. Mas o vovô Marcílio impregnou valores na criação dos filhos que se estende a nossa geração. Agradeço a Deus por ele ter existido. Parabéns primo por relatar com execelencia a história do nosso avô.
    Adilson De Paula

  3. Boa tarde caro Gil, parabéns por estes momentos em que foi possível conviver e aprender com seus avós. Penso ser um presente inestimável, tive também está sorte e é com muita saudade que me vêm ao coração as lembranças de minha querida Avó D. Clarisse, meu Vô Canuto por parte de Mãe e meu Vô Alfredo por parte de Pai. Minha Avó Antonieta não tive a sorte de conhercer.Obrigado por resgatar este digno sentimento de amor aos nossos queridos Avós. Forte e fraterno abraço Gil!!

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