Por Gil DePaula
Nos últimos dias, o Brasil assistiu a um episódio que parece saído de uma distopia judicial: o humorista Léo Lins foi condenado a mais de oito anos de prisão e a pagar uma multa milionária — tudo por causa de piadas.
Não se trata de uma metáfora. Léo Lins, conhecido pelo seu humor ácido e por abordar temas delicados em seus espetáculos, foi punido com um rigor que, em tempos normais, seria reservado a criminosos violentos ou grandes corruptos. O que nos leva a uma reflexão urgente: os valores da nossa sociedade estão completamente invertidos.
Enquanto bandidos reincidentes são soltos por “excesso de prazo”, traficantes circulam armados em comunidades inteiras, e corruptos seguem acumulando patrimônio ilícito com a benção da impunidade, a Justiça brasileira escolheu mirar sua força punitiva contra… um comediante.
É claro que a liberdade de expressão não é — nem deve ser — um salvo-conduto para a agressão gratuita ou a incitação ao ódio. Palavras têm peso. Piadas podem ferir. Mas há uma diferença abissal entre causar desconforto com uma fala e cometer um crime. E é essa diferença que está sendo ignorada.
A Falsa Dicotomia: Liberdade vs. Limites
Um dos argumentos mais repetidos por aqueles que comemoram a condenação de Léo Lins é o de que “a liberdade de expressão tem limites”. Mas essa frase, embora parcialmente verdadeira, tem sido usada como escudo para justificar a censura seletiva — aquela que pune o discurso de quem não agrada certos grupos ou ideologias.
Sim, toda liberdade implica responsabilidade. E sim, quem se sente ofendido tem o direito de se defender, inclusive por vias judiciais. Mas o princípio da proporcionalidade precisa ser respeitado. Uma piada, por mais controversa que seja, não pode jamais equivaler a um crime hediondo. O que se vê neste caso é uma distorção gritante dos princípios jurídicos básicos, e uma utilização do Estado como ferramenta de repressão moral.
A Ditadura do Politicamente Correto
Não se trata de defender o humor de Léo Lins em si. Seu estilo é incômodo, provocador, e — como ele mesmo admite — feito para chocar. Mas justamente por isso é essencial que haja espaço para sua existência. O humor, em todas as suas formas, é uma das ferramentas mais antigas da crítica social. Quando bem-feito, ele cutuca feridas, expõe hipocrisias, e nos obriga a pensar. Quando malfeito, nos irrita — mas ainda assim, deve ser tolerado, não criminalizado.
O que estamos assistindo é o avanço silencioso de uma censura com verniz progressista, onde grupos organizados tentam ditar o que pode ou não ser dito, escrito ou representado. O problema é que, quando se abre mão da liberdade para proteger sensibilidades, o próximo passo é o silenciamento completo.
Hoje é um comediante que está sendo punido por fazer rir (ou chocar). Amanhã pode ser um escritor, um professor, um jornalista — ou qualquer cidadão que ouse dizer algo fora da cartilha vigente.
A Responsabilidade Pessoal e o Risco Coletivo
É evidente que o bom senso deve guiar qualquer discurso público. Ninguém está dizendo que se deve falar tudo, a qualquer custo, sem medir consequências. Mas é o indivíduo quem deve desenvolver esse filtro interno — e não grupos militantes ou o Estado. Quando alguém ultrapassa limites e causa danos reais, que os prejudicados busquem reparação adequada. Mas a pena deve ser proporcional ao dano causado.
Condenar alguém a anos de prisão por palavras ditas num palco é instaurar um perigoso precedente. Não se está protegendo vítimas; está-se construindo uma prisão invisível para o pensamento.
Conclusão
O caso de Léo Lins não é só sobre humor. É sobre liberdade. Sobre o tipo de sociedade que queremos construir. Uma sociedade que debate e convive com a divergência, ou uma sociedade que cala, pune e aprisiona quem ousa pensar diferente?
Talvez você não goste do que Léo Lins diz. Talvez ache suas piadas ofensivas. Tudo bem. Você tem esse direito. Mas se amanhã o silêncio bater à sua porta, talvez já não haja ninguém rindo — nem falando — por você.
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