Havaianas: Da Sandália de Pobre ao Símbolo de Status — A Força da Narrativa na Sociedade de Consumo

Gil DePaula

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Durante boa parte do século XX, as sandálias Havaianas eram sinônimo de simplicidade e pobreza. Baratas, rudimentares e vistas como “calçado de pobre”, elas eram comuns nas periferias, usadas por operários, lavadeiras e crianças de famílias humildes. Em regiões do Brasil profundo, era comum ver alguém com o calcanhar já roçando o chão, sustentado por uma sola gasta e uma tira plástica torta. O produto era funcional, sim, mas nada tinha de charmoso, confortável ou desejável. O próprio marketing era quase inexistente, e a marca flertava com o ostracismo.

No entanto, nos anos 1990, algo extraordinário aconteceu: a São Paulo Alpargatas — empresa dona da marca — percebeu que não bastava ter um produto barato; era preciso contar uma história. E mais ainda: era preciso mudar a percepção das pessoas sobre o que aquela sandália significava.

Foi então que a marca decidiu investir maciçamente em marketing, com uma estratégia ousada: transformar o que era considerado “coisa de pobre” em um símbolo de estilo e identidade. Como? Apostando na narrativa.

A Virada: o Marketing Como Alquimia


O ponto de inflexão foi a introdução de campanhas publicitárias protagonizadas por celebridades — atores globais, modelos e influenciadores da época — que passaram a aparecer na TV e em revistas calçando as Havaianas com um sorriso no rosto e uma aura de descontração tropical. Surgiu então o slogan: “As legítimas.”

O produto ganhou novas cores, edições limitadas, versões mais sofisticadas (e mais caras), e passou a ser vendido em butiques e lojas de aeroporto. A marca migrou da periferia para as vitrines de grifes. Tornou-se item de exportação. Paris, Milão e Nova York agora também viam as Havaianas como um símbolo “cool” do Brasil. O que antes era visto como sinônimo de carência passou a representar descontração, liberdade e estilo de vida descomplicado.

A Ilusão Como Valor de Mercado


O que mudou não foi o produto — que em essência continuava sendo uma sandália de borracha com duas tiras — mas a história que se passou a contar sobre ele. A narrativa foi hábil em manipular o desejo: não se vendia mais um calçado barato, mas uma ideia — a de que usar Havaianas era um gesto de autenticidade, de leveza e até de sofisticação exótica. Um objeto trivial foi revestido de simbolismo.

E o mais impressionante: o público comprou. As classes mais altas passaram a usar, e a base social, vendo os ricos aderirem, passou a querer também. O que antes era desprezado virou moda. A mesma sandália, com a mesma borracha, agora era desejada porque mudou de sentido.

A Análise: O Poder das Narrativas


O caso da Havaianas é um retrato cristalino do poder das narrativas no mundo contemporâneo. Em uma sociedade orientada pelo consumo simbólico, não basta oferecer um bom produto — é preciso contar uma história que se conecte com o imaginário das pessoas. Muitas vezes, um produto medíocre com uma narrativa bem contada vence um excelente produto mal comunicado.

Vivemos numa época em que o valor de uso é secundário ao valor simbólico. A narrativa não apenas acompanha o produto — ela o define. Isso vale para marcas, pessoas públicas, partidos políticos e até ideias filosóficas.

A transformação das Havaianas é, portanto, mais do que um estudo de marketing. É uma aula sobre psicologia social, sobre identidade coletiva e sobre como a percepção pode ser moldada, mesmo contra a experiência concreta do consumidor.

No fundo, aprendemos que a verdade não precisa ser real — precisa apenas ser convincente.

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Terras dos Homens Perdidos, de Gil DePaula, é uma ficção histórica que explora a fundação de Brasília e o impacto da construção da nova capital na vida de brasileiros comuns. A narrativa é ambientada entre 1939 e 1960 e segue o drama de Maria Odete, uma mulher forte e resiliente, que relembra seu passado de desafios e desilusões enquanto enfrenta as dores do parto. Sua trajetória é entrelaçada com a história de dois fazendeiros rivais e orgulhosos, ambos chamados Antônio, que lutam pelo poder em meio a uma teia de vingança, traição e tragédias pessoais.

A obra destaca o cenário do interior brasileiro e a saga dos trabalhadores que ergueram Brasília com suor e sacrifício. Gil DePaula usa seu estilo detalhista para pintar um retrato das complexas interações humanas e sociais da época, onde paixões e rivalidades moldam o destino de seus personagens e refletem as transformações de uma nação. A obra combina realismo com uma narrativa de intensa carga emocional, capturando tanto a grandeza da construção da capital quanto as pequenas tragédias pessoais que marcaram sua fundação​.

Para saber mais sobre o livro ou adquirir uma cópia, você pode encontrá-lo em sites como o Clube de Autores ou por meio do e-mail:

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Abra o baú, tire a tampa da imaginação e prepare-se para um banquete literário!

Nessa coletânea de 18 contos temperados com pitadas de ficção científica, goles de aventura, colheradas generosas de ironia e uma lasquinha de romance, o que você encontra é um cardápio para o espírito — daqueles que alimentam o riso, o susto e a reflexão.

Cada história é uma cápsula do inesperado: ora te joga no passado, ora no futuro, ora te deixa rindo de nervoso. Ideal para quem lê aos goles ou engole de uma vez.

“O Baú das Histórias Inusitadas” é leitura para todos os gostos — principalmente – para quem gosta de se surpreender.

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