Por Gil DePaula
Poucos lugares do mundo carregam tanta história, cultura e tragédia condensadas como o Irã. Herdeiro da grandiosa civilização persa, o país foi durante séculos um celeiro de filosofia, poesia, ciência e arte. Hoje, no entanto, está nas manchetes do mundo não por sua glória milenar, mas por seu sofrimento diário sob uma das ditaduras mais brutais do século XXI.
Recentemente, assisti ao vídeo “Você conhece o Irã?”, de Pedro Doria, no canal Meio, e senti a necessidade de compartilhar suas reflexões e expandi-las à luz de um olhar mais profundo. O Irã é um país que precisa ser compreendido para além dos rótulos simplistas do noticiário. Por trás da imagem de fanatismo e repressão que o regime projeta, pulsa uma sociedade refinada, pensante, diversa — e oprimida.
O Regime da Chibata Invisível
O Irã de hoje é governado por um sistema teocrático — a república islâmica — que confunde religião com opressão institucionalizada. Nas palavras de Doria, é “um regime sádico, perverso, que suga o ar”. A estrutura estatal iraniana não apenas restringe liberdades civis: ela as extermina.
A execução pública de Majidreza Rahnavard, jovem preso em protestos, é o retrato da crueldade. Ele foi enforcado diante da multidão em Mashhad, pendurado por uma grua, com a morte se arrastando por até 20 minutos. O mesmo destino trágico tiveram Farid Mohammadi e Mehrdad Karimpour, dois jovens gays acusados falsamente de estupro, torturados e enforcados. Seus corpos, assim como suas vozes, foram silenciados por um Estado que criminaliza identidades.
E se as mulheres representam metade da população, são também metade de suas vítimas. Casos como o de Mahsa Amini, morta por não usar corretamente o hijab, ou o de Armita Garavand, que desmaiou após ser abordada pela “polícia da moral” e morreu dias depois, ilustram o controle físico e psicológico imposto sobre o corpo feminino. Não é apenas o lenço que está em disputa — é o direito à existência livre.
Um Povo Sofisticado em Silêncio
Doria relembra um professor iraniano exilado que, ao descrever o país, dizia que o Irã é “sofisticado, culto, moderno, cosmopolita”. Mas este povo está preso. Preso não só pelas correntes da repressão, mas pelo silêncio forçado. Há cientistas, músicos, poetas e cineastas que vivem como sombras em sua própria terra. Não é à toa que tantos fogem e tentam construir outra vida longe da pátria.
Nas universidades do Irã se debate alta filosofia e teoria política, mas essas ideias não ganham as ruas. Nas casas, famílias discutem liberdade, mas sussurram. Nas redes sociais, artistas e ativistas são vigiados, perseguidos e, muitas vezes, encarcerados.
A Geopolítica da Ameaça
A dor iraniana, no entanto, não termina dentro de suas fronteiras. O regime dos aiatolás atua como um provocador internacional. Apoia milícias como o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e grupos armados na Síria e na Faixa de Gaza. O Irã assume, de forma explícita, a destruição de Israel como um objetivo político.
Doria traz à tona um ponto perturbador: imagine se a Bolívia tivesse armas nucleares e declarasse abertamente que quer eliminar o Brasil. Essa é a lógica que Israel enfrenta ao lidar com o Irã — e não por paranoia, mas por sobrevivência.
A tensão cresce com cada avanço do programa nuclear iraniano. Israel, já armado, não disfarça a possibilidade de um ataque preventivo. E o resto do mundo — inclusive Rússia e China — mantém o Irã à margem, como um pária incômodo, mas perigoso demais para ser ignorado.
O Grito Contido da Liberdade
Mas mesmo diante de tanta repressão, o povo iraniano não está calado. Há resistência nas universidades, nas ruas, nos muros, nas redes, nas vozes que escapam da censura. Há mulheres que arrancam o véu em público. Jovens que desafiam as patrulhas da moral. Mães que choram seus filhos e continuam lutando.
O Irã é uma prisão com alma de catedral. O regime tenta asfixiar o espírito, mas não consegue apagar a memória do que o país já foi — nem o sonho do que pode voltar a ser. Em algum momento, essa ditadura vai ruir. E quando isso acontecer, o mundo verá ressurgir uma das culturas mais vibrantes do planeta.
Enquanto isso, cabe a nós conhecer, refletir e denunciar. Porque o silêncio, como a própria história do Irã mostra, sempre favorece os algozes. Que nossos olhos não se fechem, e que nossas vozes se somem à esperança daquele povo.
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