Por Gil DePaula
É preciso ter coragem para encarar a realidade sem os filtros da paixão política. O episódio do 8 de janeiro, que marcou a recente história brasileira com imagens dramáticas e repercussões globais, não pode ser compreendido apenas como um ato golpista ou um surto coletivo de extremismo. Por trás da ocupação de prédios públicos e da desordem institucional, havia um grito — desorganizado, sim, mas também desesperado — de milhares de pessoas que se sentem traídas pelo sistema.
Essas pessoas foram às ruas movidas por algo muito mais profundo do que teorias conspiratórias ou slogans de WhatsApp. Elas estavam inconformadas com o retorno ao poder de um político condenado e preso por corrupção — um personagem que simboliza para muitos o pior da velha política brasileira. Não se tratava apenas de “lulismo versus bolsonarismo”, mas da sensação de impotência diante de um jogo institucional que parece ter cartas marcadas.
É evidente que Lula não voltou à presidência apenas pelos votos populares. Sua volta foi articulada, legitimada e protegida por setores do Supremo Tribunal Federal, que jamais esconderam sua aversão ao então presidente Jair Bolsonaro. Mais do que eleger Lula, o sistema se mobilizou para impedir a continuidade de Bolsonaro no poder. E conseguiu.
Mas também é necessário reconhecer: Bolsonaro tem culpa no cartório. Suas bravatas — que encantavam uma base fiel, mas pouco eficazes no campo institucional — alimentaram a tensão sem produzir resultados concretos. Enquanto afrontava ministros do STF em discursos inflamados, esquecia de fazer o que um líder pragmático precisa fazer: articulação política. Faltou-lhe o traquejo de negociar, de ceder quando necessário, de construir pontes. Em vez disso, preferiu cultivar o confronto, o que apenas fortaleceu seus adversários.
Mais grave ainda foi o comportamento de alguns de seus aliados mais próximos. A infeliz declaração de seu filho, Eduardo Bolsonaro, dizendo que bastaria “um cabo e um soldado” para fechar o STF, foi um dos momentos mais simbólicos da irresponsabilidade política que cercava o presidente. Essa fala — absurda, antidemocrática e imprudente — serviu de munição para que as instituições reagissem com toda a força, justificando um cerco judicial e midiático que, ao fim, selou o destino do bolsonarismo como projeto de poder.
Hoje, a direita brasileira paga o preço por ter depositado tantas fichas em um líder que não soube liderar. O campo conservador, em vez de se organizar, renovar lideranças e conquistar espaços por mérito e estratégia, apostou tudo em um messianismo vazio, sustentado por retórica agressiva e pouca habilidade política.
O 8 de janeiro foi o estopim de uma frustração acumulada — mas também o reflexo de uma oposição que fracassou. Não se combate um sistema com arroubos emocionais. Se há uma lição que a direita precisa aprender, é que paixão sem estratégia é apenas barulho. E barulho, no fim das contas, só favorece aqueles que sabem se mover nos bastidores do poder.
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