Por Gil DePaula
O Brasil volta ao epicentro da geopolítica ideológica mundial. Desta vez, não pelas florestas devastadas ou por escândalos de corrupção, mas por ser o palco onde se encena uma nova guerra simbólica entre populismo e institucionalidade, entre soberania nacional e alinhamentos ideológicos internacionais. O recente editorial do Wall Street Journal criticando duramente o presidente Lula é o mais novo episódio de uma tensão crescente que envolve, além de Lula, os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, o Supremo Tribunal Federal e a própria democracia brasileira.
A crítica do Wall Street Journal
Com o título incisivo que aponta para um “autoritarismo disfarçado de democracia”, o editorial do Wall Street Journal classifica Lula como mais uma figura da nova esquerda latino-americana que sufoca a economia com estatismo e a liberdade com censura seletiva. A crítica abrange desde a má gestão fiscal até alianças internacionais com regimes autoritários, como os de Nicolás Maduro e Daniel Ortega. Segundo o jornal, o Brasil sob Lula parece trilhar um caminho parecido com o da Venezuela: disfarçado de democracia, mascarado por eleições, mas corroído por aparelhamento institucional e judicial.
Embora o tom do editorial seja agressivo e possua viés ideológico evidente, ele ressoa com um sentimento que também encontra eco em parte da sociedade brasileira: a percepção de que o Estado brasileiro tornou-se instrumento de um projeto de poder que mistura ideologia, judicialização e supressão da divergência.
Trump, Bolsonaro e o novo eixo da direita global
Não por acaso, enquanto o Wall Street Journal criticava Lula, Donald Trump impunha uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — gesto simbólico e agressivo, que transcende questões comerciais. A medida, ainda que motivada por supostos “desequilíbrios” econômicos, é também um recado político: a aliança entre Trump e Bolsonaro permanece viva e tem como alvo a estrutura institucional que hoje isola o ex-presidente brasileiro e fortalece Lula.
Trump descreveu os processos contra Bolsonaro como “caça às bruxas”, ecoando exatamente a narrativa que usou em seus próprios julgamentos nos EUA. A retórica da perseguição une os dois líderes e reforça o sentimento de que o sistema democrático foi capturado por elites judiciais e tecnocráticas que suprimem a vontade popular.
Bolsonaro, por sua vez, tornou-se réu em múltiplos inquéritos, inclusive por tentativa de golpe, manipulação do sistema eleitoral e até por suposta conspiração contra a vida de autoridades. Impedido de concorrer até 2030 e acuado por investigações que o colocam cada vez mais próximo da prisão, tenta se manter no jogo político por meio da vitimização e da retórica antissistema.
STF: guardião ou usurpador?
Nesse tabuleiro, o Supremo Tribunal Federal ocupa posição de protagonista — e de vilão, dependendo do ponto de vista. As decisões do ministro Alexandre de Moraes, que incluem censura de perfis nas redes, mandados de busca e apreensão contra opositores do governo, e bloqueios de aplicativos de comunicação, têm despertado tanto aplausos quanto indignação. Há quem veja nelas a necessária proteção da democracia contra a barbárie institucional. Há também quem enxergue um Estado policialesco em ascensão, que transformou o combate às fake news em pretexto para calar vozes dissonantes.
A tensão se eleva quando se percebe que essa postura, embora juridicamente respaldada, não encontra eco proporcional contra setores de esquerda que também desinformam, ameaçam ou incitam o caos — criando, na percepção pública, uma assimetria perigosa entre a lei e sua aplicação.
Lula entre o nacionalismo e o desgaste interno
Lula, por sua vez, tenta se equilibrar entre a retórica diplomática e o revanchismo político. Ao reagir à medida de Trump, afirmou que “o Brasil não aceita imposições” — um gesto de soberania. Porém, seu governo enfrenta sérias dificuldades internas: inflação alta, fuga de investidores, estagnação da agenda de reformas e crise de confiança entre o Planalto e o empresariado.
Além disso, seu discurso pró-democracia colide com práticas que sugerem concentração de poder, captura de instituições e alianças geopolíticas controversas com ditaduras declaradas.
A tentativa de Lula de se apresentar como um estadista mundial é constantemente sabotada por sua própria base ideológica, por erros econômicos internos e por um legado que ainda carrega o peso das denúncias da Lava Jato — arquivadas ou não, ainda muito vivas no imaginário coletivo.
Um jogo perigoso
O cenário brasileiro é emblemático de uma disputa que ultrapassa fronteiras: o embate entre o populismo autoritário e o institucionalismo tutelado. Trump e Bolsonaro representam a ruptura com as normas em nome de uma suposta “vontade do povo”. Lula e o STF representam o sistema que tenta se preservar, ainda que às custas da liberdade e do equilíbrio entre poderes.
O Brasil caminha sobre um fio de navalha: qualquer movimento em falso pode transformar divergência em ruptura, crítica em perseguição, soberania em isolamento.
Se Lula quiser, de fato, deixar um legado democrático, precisará encontrar um ponto de equilíbrio entre Estado forte e liberdade civil. Se o STF quiser continuar sendo a âncora da estabilidade, deverá exercer sua força com imparcialidade e comedimento. E se Bolsonaro quiser salvar o pouco de capital político que ainda lhe resta, terá de entender que a democracia não é um teatro — é um pacto. E quem rompe pactos, raramente volta a assiná-los.
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