Artigo publicado em junho de 2011
Gil DePaula
A expressão popular “pão e circo” foi cunhada no império romano, sendo uma forma do latim panis et circenses. Já naquela época, Roma sofria dos grandes males da nossa sociedade atual, como o desemprego e grande aglomeração nos centros urbanos. Como forma de aliviar as tensões sociais o imperador criou essa politica que consistia basicamente na distribuição de pão para os pobres, e em lutas sangrentas de gladiadores nos estádios (o mais famoso era o Coliseu). A finalidade dessas ações era desviar a atenção do povo e evitar o descontentamento, que poderiam vir a resultar em rebeliões e questionamentos contra o governo.
O Brasil vive uma situação análoga a dos antigos romanos. Aqui temos o futebol como catalisador das paixões (o circo), e programas sociais como o “bolsa família” (o pão), que distraem os menos favorecidos que ao receberem o agrado se sentem felizes, enquanto aqueles que recebem seus votos continuam a desviar o dinheiro público para benefício próprio. Os programas sociais fariam sentido se paralelamente fossem realizados investimentos concretos na educação, saúde, segurança e qualificação dos jovens, entre outras coisas.
O futebol, “paixão nacional”, que leva milhares de pessoas aos estádios substitui (guardado as devidas proporções) os espetáculos dos gladiadores nos circos romanos, onde por trás se alimenta uma poderosa indústria comercial composta pelos times, federações, mídia, fabricantes dos mais diversos tipos de produtos, etc., movimentando cifras astronômicas, onde um jogador mediano pode ganhar duzentos, trezentos mil reais, e um locutor de futebol salário de um milhão.
Enquanto isso, a massa se dirige aos estádios e quando seu time faz um gol ou alcança a vitória, comemora enlouquecidamente, saldando àqueles bem remunerados rapazes como verdadeiros heróis. A contradição se apresenta na derrota, a tristeza desolada na face dos torcedores filmados pelas câmeras é contundente. Agora, surpreendente, é a atitude por parte da torcida de qualquer time, que diante do revés e acima dos palavrões que proferem, partem para a depredação e o confronto físico que por diversas vezes tem resultado em morte. Muitos deles ali tiveram o circo. E quanto ao pão?
Aproxima-se uma copa do mundo, não uma simples copa, mas sim a do Brasil. Oportunidade que teremos para além de demonstrarmos nosso patriotismo (que com certeza estará bem inflamado) que temos a capacidade para fugir do estigma romano. Que temos condição de concretizarmos nossos sonhos de grandeza e de um mundo mais justo, a partir da demolição conceitual do panis et circenses.