Extremamente violento e brutalmente realista, o filme mexicano Heli choca o espectador com sua crítica social direcionada para a absurda opressão provocada pelo narcotráfico sobre a vida de pessoas inocentes.
O mundo retratado é desesperador desde o início, mas esse inferno torna-se cada vez mais cruel à medida em que o drama avança em direção a uma situação sem saídas, onde a polícia mostra-se parceira do crime. Uma das personagens principais, por exemplo, é uma menina de 12 anos de idade, namorada de um jovem traficante cinco anos mais velho que prepara-se para ser policial (em um treinamento temperado com vômito e fezes). Esse relacionamento põe em risco a segurança da família da garota de forma incontornável.
A agressividade está presente desde a primeira imagem, como um anúncio do pior que está por vir. O ritmo procura transmitir a calma da paisagem desértica, mas a sensação de lenta passagem de tempo é bruscamente acelerada diante do impacto dos desdobramentos vividos pelo protagonista. Cachimbos de crack convivem com videogames e adolescentes participam de sessões de tortura como rituais de aprendizado.
sensação de realidade é realçada pelo trabalho dos atores, que não parecem interpretar, como se fizessem parte daquele universo. Os diálogos são soltos e coloquiais, informais. A caracterização visual dos ambientes também atinge uma verossimilhança mais associada a documentários. Tudo isso direcionaria para um tipo de cinema mais contemplativo, mas a maneira como a violência surge eleva a tensão a um nível de filme de terror.
Com seu estilo cru e direto, o cineasta Amat Escalante ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, onde concorreu com nomes consagrados como Roman Polanski, Irmãos Coen, Jim Jarmusch e Paolo Sorrentino (com A grande beleza).