A Metamorfose: Uma Resenha do Pequeno Grande Livro de Kafka

Por Gil DePaula

A-Metamorfose A Metamorfose: Uma Resenha do Pequeno Grande Livro de Kafka

No intrigante livro de Kafka: A Metamorfose, em um belo dia, Gregor Samsa acorda e percebe que transformou-se em um asqueroso inseto. Porém, o autor descreve essa transformação com tamanha naturalidade, que não se intui o sofrimento do personagem. Não acontece a reação que se espera de alguém que sofre tal transmutação física. Apenas, existe a constatação de que Gregor não cumprirá com suas tarefas diárias: acordar, escovar os dentes, sair de casa e pegar o trem para vender suas mercadorias, e nunca mandará o chefe para onde deseja.

Kafka escreve sem tristeza, parece apenas querer provocar o leitor, mostrar que de uma hora para outra, as nossas vãs certezas e conceitos podem vir água abaixo. É como dizer: acorde idiota! Deixe o seu mundinho, pois as coisas podem mudar. O próprio autor ressalta isso em uma carta enviada a um amigo: Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem que ser o machado para o mar congelado dentro de nós.

A narrativa de Franz Kafka é singular; a sensação de impotência se faz presente. Resta ao leitor se conformar com a situação, cujo ponto de partida permanece oculto até o último momento. O que permanece é a dúvida, pois tanto Gregor quanto o leitor não sabe o porquê do protagonista ter sido transformado em um inseto.

O Livro de Kafka nos fará refletir sobre as inúmeras situações do nosso cotidiano; filhos que desprezam os pais em idades avançadas, profissionais que não obtêm empregos depois de certa idade. Se você é desprezado, talvez, quem sabe? Sentir-se-ia um inseto.

A solução será a morte? Afinal, a “dona da foice” não finaliza todos os problemas?

Quem Foi Franz Kafka

Quem Foi Franz Kafka

Franz-Kafka A Metamorfose: Uma Resenha do Pequeno Grande Livro de Kafka

Franz Kafka, Nasceu em Praga, filho de pais judeus de classe média. Sua infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai, comerciante próspero, que sempre fez do sucesso material a tábua de valores – para si e para os outros. Na obra de Kafka, a figura paterna aparece associada tanto à opressão quanto à aniquilação da vontade humana, especialmente na célebre Carta ao pai, escrita em 1919.

Kafka admitiu a influência intelectual de Heinrich von Kleist, Pascal e Kierkegaard e a importância do ambiente de Praga, cidade medieval gótica, dotada de elementos eslavos e alemães e marcada pelo traço barroco e sombrio. De 1901 a 1906, Kafka estudou Direito na Universidade de Praga, onde conheceu seu grande amigo – posterior biógrafo e depositário de sua obra – Max Brod. Em seguida, passou a frequentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade judaico-alemã, na qual circulavam ideias e atitudes críticas e inconformistas, com as quais Kafka se identificava. Concluído o curso, empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho.

A Insatisfação de Kafka

A Insatisfação de Kafka

Apesar da competência profissional – foi promovido por duas vezes – e da consideração que lhe dispensavam os colegas de trabalho, Kafka sempre sentiu o toque da insatisfação no emprego, pois ele o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. “Tudo o que não é literatura me aborrece, e eu odeio até mesmo as conversas sobre literatura”, chegou a dizer.
A vida emocional de Kafka foi conturbada, e ele teve vários noivados e amores infelizes.

Essas circunstâncias acentuaram o sentimento de solidão e desamparo, que jamais o abandonaria e que se manifestou desde cedo nos fragmentos publicados em 1909 sob o título Descrição de uma luta (Beschreibung eines Kampfes). O livro seria publicado na íntegra apenas em 1936. Nessa inquietante e perturbadora narração, que passou quase despercebida à época em que foi publicada, o mundo dos sonhos – tema recorrente na obra do autor – adquire uma lógica desconcertante e obstinada – pertinaz – em meio ao real.

Obras Primas de Kafka

Obras Primas de Kafka

As obras-primas de Kafka, O Processo e O Castelo, respectivamente em 1925 e 1926, só seriam publicadas por Max Brod, após sua morte. Tanto em O Processo, quanto em O Castelo, a ambiguidade onírica do universo kafkiano (o adjetivo virou conceito na literatura ocidental) e as situações de absurdo existencial chegam a limites jamais alcançados. Kafka não publicou essas obras por motivos diversos; do fato de julgar que mais publicações atrapalhariam os trabalhos que ainda pretendia encaminhar ao fato de elas evocarem as sombras de fases de sua vida que lhe pareciam pessoalmente constrangedoras.

Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se a longos períodos de repouso a partir de 1917. Em 1922, largou definitivamente o emprego – depois de uma série de pedidos de férias – e, excetuadas algumas breves temporadas em Praga e Berlim, passou o resto da vida em sanatórios e balneários. Kafka morreu em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena.

Contrariando o desejo expresso pelo autor de que seus inéditos fossem queimados após sua morte, Max Brod publicou romances, textos em prosa, a correspondência pessoal e diários de Kafka. No posfácio à primeira edição de O Processo, Max Brod explica que, se não seguiu as ordens de Kafka, queimando sua produção inédita, é porque havia assegurado ao amigo em conversa anterior que, caso ele um dia viesse a pedir que o fizesse – mesmo em testamento –, não atenderia ao pedido. A obra do escritor tcheco veio a influenciar movimentos artísticos inteiros, como o surrealismo, o existencialismo e o teatro do absurdo.

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