Para aqueles que gostam de uma boa leitura, ou para aqueles que querem começar a ler e fazem questão de começar por um excelente livro, trago essas resenhas, e recomendo que leiam os livros
Servidão Humana – W. Somerset Maugham
Servidão Humana – W. Somerset Maugham
Somerset Maugham começou a escrever Servidão Humana aos 37 anos como uma espécie de catarse para as suas múltiplas angústias e traumas. O romance, cujo título foi retirado da Ética de Espinosa, surgiu em 1915, depois de quatro anos de trabalho árduo. É uma história de sofrimento e decepções.
Maugham cria a personagem de Philip, relatando – com pormenores enfáticos – o seu longo caminho da realização pessoal, as tentativas para escapar a uma existência burguesa, acomodada e sem sentido e, mais tarde, a uma relação sórdida e condenada.
Philip, à semelhança de Maugham, é um órfão entregue a guardiões mais velhos, estranhos e severos, num ambiente desconhecido e hostil.
A primeira parte do livro é dedicada à vida em Blackstable – Maugham viveu em Whitestable – e na escola em Tercanbury – a de Maugham era a King’s School em Canterbury – sendo descrito com minúcia o ambiente vitoriano e dickensiano da casa e da escola, com as habituais cenas de bullying.
O ponto fraco de Philip é um pé boto, a de Maugham era a gaguez – a mediocridade da maior parte dos professores – ignorantes, preguiçosos, insensíveis, estúpidos –, o tédio da rotina escolar, o sentido de injustiça e a lenta descoberta da identidade.
O Colecionador – John Fowles
O Colecionador – John Fowles
“O Colecionador” é o primeiro livro de John Fowles, escrito em 1963. O romance narra a história de Frederick Clegg, um funcionário público que coleciona borboletas e, subitamente, se torna dono de uma fortuna. Ele então passa a ter uma ambição: sequestrar a bela Miranda, seu amor platônico.
A trama se desenvolve com a disformidade da personalidade de Clegg, que tem a seu favor apenas a superioridade de força, contra a vitalidade e inteligência de Miranda que, contando com sua superioridade de caráter, confunde e ofusca o medíocre sequestrador.
À Espera de Um Milagre – Stephen King
À Espera de Um Milagre – Stephen King
Em À Espera de um Milagre, Stephen King apresenta aos seus leitores a história de Cold Mountain, uma penitenciária estadual, em um drama belamente escrito, onde a figura da Velha Fagulha, a cadeira elétrica, permanece sombriamente em seu papel coadjuvante, porém, de certa maneira indiretamente onipresente; cujo superintendente atendia pelo nome de Paul Edgecombe.
O Ano da nossa história é 1932, quando tudo realmente se transforma na penitenciária com a chegada de um novo detento, desta vez, John Coffey, um gigante de quase dois metros. Embora projete uma sombra intimidadora, Coffey acolhe a sua cela e a sua situação com olhos constantemente umedecidos pelo jorro incessante de suas lágrimas. Aparentemente, Coffey parece remoer dentro de si um intenso pesar e tristeza pelo crime que é acusado: o estupro e assassinato de duas gêmeas de nove anos.
O crime hediondo recai sobre os ombros de Coffey por dois motivos principais: o primeiro, por ter sido flagrado no campo com as gêmeas já violadas, nuas e mortas alinhadas em cada braço, enquanto emitia um grito lamuriento misto de dor, pesar e arrependimento. O segundo, um motivo circunstanciado basicamente por ser negro, em um EUA de 1932, quando a segregação racial mantinha a força, principalmente nos estados do sul.
A cena em que John Coffey é encontrado pelos policiais e pelo pai das gêmeas transita entre o triste e o intrigante. Coffey parece viver em um estado catatônico, ou talvez em uma bolha que retém suas memórias e parte do seu senso cognitivo. Ainda que essa impressão ressoe, o grandalhão é dotado de uma delicadeza, de uma educação pouco usual no Corredor Verde de Cold Mountain, onde o destino final levava à Velha Fagulha. É como se a sua aura fulgurasse em meio a toda a escuridão sangrenta do Bloco E. E é esse sintoma, a princípio que chama a atenção de Paul Edgecombe.
“Chefe, estou muito cansado da dor que escuto e que sinto. Estou cansado de andar vagando, sozinho como um pardal na chuva. Sem nunca ter nenhum companheiro para ir junto comigo nem para dizer de onde nós estamos vindo nem pra onde vai nem por quê. Estou cansado das pessoas serem más umas com as outras. Sinto como se tivesse cacos de vidro dentro da cabeça. Estou cansado de todas as vezes que tentei ajudar e não pude. Estou cansado de ficar no escuro. Mais que tudo é a dor. Tem demais. Se eu pudesse acabar com ela, acabava. Mas não posso”.
A Revolução dos Bichos – George Orwell
A Revolução dos Bichos – George Orwell
O livro se assemelha à uma fabula política e assim como todas as fabulas é protagonizada por animais com o poder da fala, que argumentam e que sentem. São apresentados ao leitor uma série de animais de fazenda, que vivem um dia-a-dia de trabalhos forçados, no interior da Inglaterra e que cansados do trabalho degradante, reúnem forças para tomar a fazenda e expulsar os proprietários daquela terra. E é assim que a Granja do Solar torna-se a Granja dos Bichos, onde todos os animais são equiparados e possuem os mesmos direitos e deveres.
Quando publicado em 1945, as semelhanças com a Revolução Russa (1917) não passaram despercebidas, principalmente as que tangem aos líderes políticos tanto da União Soviética, Stalin, quanto da Granja dos Bichos, Napoleão — que eram igualmente cruéis com seus opositores.
Os porcos, animais dotados da esperteza e da habilidade de leitura, redigem um manual de regras de comportamento. As regras citam a maneira como eles sempre deveriam se portar como bichos, como deveriam viver como bichos, como não deveriam beber como homens, se vestir como homens ou andar como homens. A paz não dura muito tempo e logo, logo, os porcos começam a treinar exércitos de cães para garantir o seu domínio e poder perante os demais animais.
Apesar dos mandamentos e leis de igualdade, aos poucos os animais vão perdendo seus direitos e os mais inteligentes, os porcos, que outrora tomaram a liderança acabam por torna-se uma espécie de patrões. Os animais, inconscientemente, acabam permitindo o retorno da tirania — desta vez, vinda dos seus próprios semelhantes.
Esta fabula, traz mais do que uma simples lição de moral, carrega consigo uma verdadeira reflexão ao mostrar os revolucionários tornando-se aquilo a que tanto repudiavam. Pouco a pouco os porcos tornam-se os homens, vestem-se como homens, embriagam-se como homens e andam como homens.
Ao fim do livro, depois de todas as leis terem sido alteradas e excluídas, só resta uma, que diz muito sobre o que o socialismo na união soviética veio a se tornar: “alguns animais são mais iguais do que outros”
A reflexão é a de que o verdadeiro inimigo não tem filiação política, o verdadeiro inimigo é aquele que restringe a liberdade humana em nome de qualquer bem maior.
1984 – George Orwell
1984 – George Orwell
Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho.
Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico.
Quando foi publicada em 1949, poucos meses antes da morte do autor, essa assustadora distopia datada de forma arbitrária num futuro perigosamente próximo logo experimentaria um imenso sucesso de público. Seus principais ingredientes – um homem sozinho desafiando uma tremenda ditadura; sexo furtivo e libertador; horrores letais – atraíram leitores de todas as idades, à esquerda e à direita do espectro político, com maior ou menor grau de instrução.
À parte isso, a escrita translúcida de George Orwell, os personagens fortes, traçados a carvão por um vigoroso desenhista de personalidades, a trama seca e crua e o tom de sátira sombria garantiram a entrada precoce de 1984 no restrito panteão dos grandes clássicos modernos.
Livros de Gil DePaula
Livros de Gil DePaula