Por Gil DePaula (Artigo originalmente publicado em junho de 2017)
O termo ficção está intrinsecamente ligado à criação de uma narrativa imaginária ou irreal. O homem é o único ser que habita nosso planeta, capaz de criar algo que não é real, mas que mantém a aparência com a realidade, ou com uma realidade possível. No universo da sua criação, ele compõe o ambiente conforme sua vontade.
“A arte imita a vida” é uma citação conhecida e atribuída ao filósofo grego Aristóteles, mas a ficção, como arte, vai além da imitação da vida e quase sempre traz novos elementos e conceitos.
No Brasil, a realidade vem paulatinamente superando a ficção, sempre apresentando novos e surpreendentes elementos (as vezes parece obra advinda da cabeça de um escritor maluco), de tal forma que já se torna repetitivo e cansativo abordarmos alguns temas. Entre eles, os relacionados à política (falcatruas, propinas, desvios de dinheiro, abuso econômico, etc.) onde tudo se confunde.
Acompanhei moderadamente, o desenrolar do julgamento no TSE, que determinaria ou não a cassação da chapa Dilma – Temer, e que, como todos já sabem, por 4 a 3, optou pela absolvição da chapa.
Nas justificativas do voto dado por aqueles ministros que absolveram a chapa, algumas soaram estranhamente ficcionais, como a do ministro Napoleão Nunes, que afirmou: “A Justiça Eleitoral não pode se arvorar como terceiro turno dos pleitos, sem que se constatem violações contundentes e incontestes ao ordenamento eleitoral. Ao contrário, em casos como esse, a Justiça Eleitoral deve manter postura de moderação de prudência, sob o risco de aniquilar a vontade soberana do povo”. Me pergunto: em qual realidade vive esse ministro, para acreditar que o povo por sua vontade soberana, quer manter no poder indivíduos que já se comprovaram que alcançaram ao pedestal-mor da política brasileira por meio de dinheiro sujo e associações suspeitas? Depois de conhecermos todas as denúncias, afirmações de testemunhas e comprovações de abuso econômico, me parece que as violações são contundentes e incontestes. Seria bom que o ministro colocasse um pé na realidade e abandonasse a fantasia em que vive.
O ministro Admar Gonzaga considerou gravíssimos os fatos apurados sobre a campanha, mas disse que eles não poderiam ser colocados no processo por contrariar a “regra da congruência”. Aqui faço uma paródia a Gilmar Mendes e digo: às favas com a congruência, pois o que queremos é uma relação adequada entre a política e a moralidade.
Já o ministro Tarciso Vieira citou os delatores da Lava Jato e disse que concorda que houve desvios. Porém, questionou se era possível provar que esses recursos alimentaram a campanha de 2014. Ele também disse que vários partidos receberam dinheiro das empresas envolvidas no esquema. Somente alguém que não enxergue a realidade brasileira, e concorda que houve desvios, questiona se é possível provar que recursos ilícitos alimentaram a campanha de 2014. Não se faça de bobo ministro.
Quanto ao Gilmar Mendes, qualquer brasileiro que acompanha sua trajetória como ministro; soberbo, falastrão e imodesto, sabia qual seria o seu voto, pois com ele, na realidade e na ficção, não conheço alguém capaz de depositar um grama de confiança em sua pessoa. Ele realmente é uma unanimidade. Todos nós adoraríamos que esse personagem não existisse.
Nos próximos dias, certamente, teremos mais alguns capítulos da nossa realidade/ficção brasileira. Não se surpreendam com o enredo.
Livros de Gil DePaula
Livros de Gil DePaula
Gil, esses indivíduos estão chipados, estão comprometidos com as trevas. L ia S Quadrilha de Robson Pinheiro, livro de 2014 ou 16. Lá ele
Cita os togados.
Tem razão João Carlos. Vou procurar o livro que você citou.