Para mim, cada gênero de filme tem a sua hora e o seu momento. Em um determinado deles, quero assistir à uma comédia, em outro um drama ou ficção ou suspense, etc. Essa seleção que apresento, lhe trará sentimentos conflitantes, não importa em qual gênero os encaixarmos.
Vulcão (Volcano, 2011)
Como reconstruir quando você só destrói? Falando sobre a busca da felicidade de um homem, o jovem cineasta islandês Rúnar Rúnarsson – em seu primeiro longa metragem – transforma um conflito pessoal em uma obra de arte.
Vulcão é o tipo de filme que você nunca ouviu falar mas que certamente vai querer debater sobre ele. O que mais chama a atenção no longa é a desconstrução do protagonista- absurdamente bem feita. A lentidão apresentada neste trabalho – característica de alguns filmes de arte europeus – é extremamente necessária para captar todos os elementos que caracterizam o universo familiar que o protagonista vive. Méritos total do diretor, que também escreveu o roteiro.
O filme é de 2011 e, infelizmente, deve estar jogado nas locadoras que ainda restam, atrás dos blockbusters que são lançados a cada minuto pela indústria mais forte por trás do cinema. Esse belíssimo filme de arte precisa de pessoas como nós, amantes do cinema, para ganhar força e ser alçado ao patamar que merece. Diretamente das lindas paisagens geladas da Islândia uma pérola cinematográfica desponta. Vejam, não há como se arrepender.
O Último Elvis (El último Elvis, 2012)
Festas para uns, vida para outros. A subida lenta pela escada, logo no início do filme mostrava que muitos detalhes seriam mostrados durante os poucos mais de 90 minutos do ótimo drama argentino O Último Elvis.
Dirigido pelo cineasta Armando Bo, o longa personifica o drama em torno de um pai de família que busca uma vida melhor, paralela ao sonho que sempre teve. A maneira comovente que é apresentada essa história, aproxima o público na série de fatos, que preenchem aos poucos a tela.
O roteiro muitas vezes parece sem pretensão ou propósito, mas o protagonista, excêntrico por si só, gera ótimas sequências guiando o público para um desfecho emblemático.
As canções são arrepiantes, o ator John McInerny tem uma atuação muito convincente. A inconsequente busca de um sonho nem sempre é uma história feliz. A sessão nostalgia e as canções que nunca sairão da memória são detalhes muito bem aproveitados pela história. Afinal, quem inventou o rock and roll nunca sai de moda!
Amor (Amour, 2012)
O diretor alemão Michael Haneke volta às telonas, após o sucesso de seu último trabalho: A Fita Branca, para contar a história de uma relação que precisa superar certas dificuldades tendo apenas o amor como arma. Estamos falando do aclamado Amour. Esse não é um daqueles filmes clichês onde sabemos exatamente onde iremos pisar, Haneke é diferente, original, único, sua lente inteligente consegue captar até o último respingo de sentimento em cada cena. Um trabalho exemplar, acima da curva.
A dupla de protagonista tem um entrosamento fora do comum. Dizem tanto com o olhar que chegam a emocionar em quase todas as sequências. É fabuloso o retrato montado dessa relação. Parece que não há câmeras, estúdio, ou qualquer encenação. A verdade é uma variável constante, certas vezes dói na alma.
Quando Haneke consegue dominar a direção dessa forma, ficamos reféns de maravilhosos minutos dentro da sala de cinema. Jean-Louis Trintignant (A Fraternidade É Vermelha) é seguro e consegue mostrar a vulnerabilidade de seu personagem com grande maestria. Emmanuelle Riva (A Liberdade É Azul) contracena como as grandes damas do teatro europeu, lúcida e com uma transparência que impressiona. Quem não viu não pode perder.
A Vida Secreta das Palavras (La vida secreta de las palabras, 2005)
Você sabe quando a profundidade se encontra com a solidão? Em A Vida Secreta das Palavras embarcamos na plataforma das emoções, guiados por personagens ricos em ‘sofrer com a vida’ nos sentimos próximos a eles por conta de uma verdade absurda quando estão com a palavra. A diretora e roteirista Isabel Coixet consegue reunir pequenos elementos que transformam essa obra em uma obrigação na estante de cada cinéfilo.
Aos poucos, com a armadura do sofrimento caindo delicadamente, os diálogos começam a ter um poder, gerando um impacto dentro da trama.
Confissões de ambas as partes levam o longa a uma profundidade inacabável de lembranças e sofrimentos. Um mundo de surpresas, dor e esperança começa a brotar levando a um desfecho emblemático. O público é exposto a uma emoção diferente a cada corte seco de câmera. É o amor surgindo? É a fuga de sua monótona vida? O filme deixa algumas lacunas soltas para todos nós interpretarmos. Não deixem de conferir esse ótimo drama que comprova mais uma vez que a dor e o amor podem viver sim, lado a lado.
O Nevoeiro (The Mist, 2007)
Uma janela sendo invadida por uma árvore seria o menor dos problemas enfrentados por um pai de família na luta para sobreviver em um dia trágico na sua cidade. Dirigido pelo cineasta francês Frank Darabont, O Nevoeiro (por favor, não confundam com A Névoa) é um retrato do fim do mundo com pitadas de ação, emoções e decisões erradas.
Os acontecimentos bombásticos que preenchem a história (baseada em um livro de Stephen King) vão compondo o que vemos em cena, cada qual, pela personalidade de cada personagem somos guiados pelo medo, fé, coragem e desespero diante do fato inusitado daquele dia.
Com um dos finais mais arrepiantes, comoventes e chocantes de todos os tempos, O Nevoeiro deixa todos nós de ‘boca aberta’ na subida dos créditos. Veja esse filme, você não vai se arrepender!
O Quarto do Filho (La stanza del figlio,2002)
Até aonde vai a dor de uma família após uma tragédia devastadora? Em meados de 2002 estreou em nossa terra verde e amarela o longa italiano O Quarto do Filho. Escrito, dirigido e interpretado por Nanni Moretti, o filme vai além de todas as questões levantadas em produções semelhantes focando do início ao fim em um homem e as escolhas que fizera em uma tarde agradável ao que parecia ser mais um fim de semana como todos os outros.
O longa é profundo, entra no drama de uma família e seu modo de viver diferente após uma enorme tragédia. Um retrato devastador de uma família após uma tragédia, não há outra maneira definir essa maravilhosa fita italiana. Um dos detalhes marcantes que vemos é uma direção iluminada de Nani Moretti. Para quem tem coração forte e gosta de filmes bons, recomendado fortemente.
Tudo o que Você Tem (Tout ce que tu possèdes, 2012)
Sem ligações humanas a vida não tem sentido. O longa canadense Tudo o que Você Tem é um drama nada superficial sobre erros de um passado triste. O filme, que é dirigido por Bernard Emond, invoca a alma dramática e a questão existencialista.
Durante os poucos mais de 90 minutos de fita vamos passeando pela tristeza do protagonista e entendendo aos poucos o porquê de tamanha solidão. Pequenos flashbacks no passado confuso do protagonista vão tentando preencher lacunas e direcionando os caminhos do seu destino ao público.
É um típico filme Cult, muita gente vai gostar, outros não. Tudo que você leitor tem é a chance de conferir esse bom trabalho.
Era uma Vez eu, Verônica (2012)
É possível viver uma vida em conflito? Dirigido pelo elogiado diretor Marcelo Gomes, Era uma vez eu, Verônica é um longa que possui pensamentos fortes, impactantes.
A cena inicial é profunda, nua e exposta, ligando-se aos instintos e aos êxtases daquele momento. Paciente de si mesmo, a personagem principal vai se tornando complexa, sem dependência ao romance; sexo vira só sexo.
O filme a toda hora parece que vai cair em um vazio existencial, mas consegue, seja em um bom diálogo ou em uma frase que faz muito sentido, suprir e apresentar razões para todos os conflitos que vemos e sentimos.
Louvável a entrega da protagonista Hermila Guedes (do excelente O Céu de Suely). Suas expressões e a transmissão das emoções para o público são os pontos altos dessa ótima atuação. O filme é todo de sua personagem, seu dia a dia é ouvir os problemas dos outros e tentar uma solução para os seus próprios. Mas quem a escuta? Como fica refém de si mesmo, somos jogados na história por um ritmo que é ditado por pausas existenciais, ressaltando de uma outra forma a essência daqueles bons diálogos. Depois de alguns acontecimentos, há uma transformação da personagem, rumando para uma tentativa de viver um amor e a confiança no novo trabalho.
Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, 2012)
Em um relacionamento, as pessoas se somam ou se complementam? Para falar de amor a um nível intenso, cheio de dramas e conflitos, o diretor Ira Sachs (Vida de Casado) aborda todas essas variáveis aplicadas a um relacionamento homossexual no excelente drama Deixe a Luz Acesa.
Além da direção primorosa, o longa conta com uma atuação espetacular de seu protagonista, o dinamarquês Thure Lindhardt (Velozes e Furiosos 6).
A falta de maturidade é a grande questão abordada do magnificente roteiro. O relacionamento dos protagonistas se torna descontrolado: há amor, paixão e amizade mas ambos não conseguem dosar suas atitudes, vícios de drogas e sumiços sem explicações. Traições se tornam frequentes, levando ambos para o fundo do poço.
Um dos personagens ainda consegue desafogar suas mágoas no excelente núcleo familiar comandado pela carismática e querida pelos cinéfilos: Paprika Steen (Amor é Tudo o Que Você Precisa). Como o filme é repleto de altos e baixos, contando a saga deste conturbado relacionamento, os artistas precisam ser fiéis a seus personagens, rindo e chorando ao limite. Um esforço que vemos do primeiro ao último minuto. Merece ser conferido!
Pietá (Pieta, 2012)
Até aonde a falta de amor materno é importante para a formação do caráter de um homem? O vencedor do Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza 2012, Pieta é um filme bruto, nada delicado.
Escrito e dirigido pelo cineasta sul-coreano Kim Ki-duk (Casa Vazia), o longa apresenta cenas muito fortes que deixarão alguns cinéfilos incomodados. É um filme difícil de digerir.
Nessa complexa trama, os rostos dos personagens são expressivos. Uma agonia muito transparente fica estagnada em tela. A plateia sai do cinema raciocinando sobre todos os eventos que acompanhou durante os minutos, tensos, de projeção.
Quando revelações bombásticas são feitas, durante o decorrer da história, muitos amantes do cinema lembrarão rapidamente de outro longa oriental, Oldboy.
O vai e vem do roteiro deixa o clima de suspense no ar. Não sabemos ao certo para onde a história nos levará, então, se o espectador conseguir ser envolvido e passar confiante pelas cenas de mutilação, receberá um desfecho impactante de um filme que começa muito gelado e termina de maneira arrasadora.
Os gritos antes dos créditos finais aliviam aos que queriam que terminasse logo todo aquele sofrimento. Para outros pode fechar com chave de ouro o desfecho emblemático, cheio de simbolismo, clássico dos filmes orientais.
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