O progresso levou as árvores do cerrado que enfeitavam a minha cidade.
O Progresso levou as enxurradas em que eu costumava brincar.
O progresso levou as pedras e os tocos que machucavam meus pés descalços.
O progresso levou os córregos em que eu nadava.
O progresso levou meus campinhos de terra.
O progresso levou as minhas brincadeiras preferidas de piques, queimadas, bete, salve bandeirinha e tantas outras.
O progresso levou as histórias que minha mãe contava, sob a luz de candeeiros ou velas.
O progresso levou as matinês de domingo nos cinemas do meu bairro.
O progresso levou meus bonequinhos do Toddy.
O progresso levou meus refrigerantes e chicletes preferidos.
O progresso levou as minhas bolinhas de gude e o meu pião com fieira.
O progresso levou o meu “Kichute” e o meu “conga”.
O progresso levou as minhas noites de reunião com os amigos sob a luz do luar.
O progresso levou as minhas festinhas dos sábados e domingos.
O progresso levou as minhas pesquisas nas bibliotecas da escola.
O progresso levou as minhas fotografias em papel fotográfico.
O progresso trancou as portas das casas.
O progresso está levando embora o prazer de se ler um livro de verdade.
O progresso está levando embora as reuniões com meus parentes e amigos.
Apenas uma coisa o progresso não levará: a saudade que sinto de tudo isso!
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