Gil DePaula
Em um dia qualquer — desses que parecem iguais a tantos outros —, ao encarar o espelho, vi algo inesperado: um menino que há muito não visitava minha memória me fitava com olhos ávidos, curiosos, mais atentos que os meus.
Notei que ele perscrutava minhas rugas e os cabelos já prateados com espanto, como quem se pergunta quando tudo aquilo chegou, de que forma foi se instalando, e se, de algum modo, teria valido a pena.
Seu olhar insistente queria mais: queria saber que histórias se escondiam nas dobras da pele, que batalhas haviam deixado marcas, que amores ou dores haviam cinzido os fios outrora negros da minha cabeça.
Busquei saciar sua sede, e lhe disse:
— Cada ruga é um ano vivido.
Cada sulco, um passo dado em direção à paciência, ao saber e à tolerância.
Esses cabelos grisalhos não falam apenas de tempo, mas de um amadurecimento que suaviza os gestos, que torna mais humanas as escolhas.
Ainda assim, o menino não se deu por satisfeito.
E eu continuei:
— Também perdemos ao longo do caminho.
Amigos, parentes, sonhos…
Projetos que naufragaram, ideologias que abandonamos, e a inocência — ah, a inocência — que nunca mais nos será devolvida.
Erramos.
Aprendemos.
Erramos de novo.
Seguimos.
Então ele me perguntou, com a simplicidade cortante das crianças:
— Você realizou meus sonhos?
Sorri.
E respondi com a voz de quem já entendeu algumas coisas:
— Os sonhos não têm fim.
Alguns se perdem, outros se transformam.
Mas novos sempre nascem.
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Livros de Gil DePaula
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Terras dos Homens Perdidos – Gil DePaula (2017)
Terras dos Homens Perdidos, de Gil DePaula, é uma ficção histórica que explora a fundação de Brasília e o impacto da construção da nova capital na vida de brasileiros comuns. A narrativa é ambientada entre 1939 e 1960 e segue o drama de Maria Odete, uma mulher forte e resiliente, que relembra seu passado de desafios e desilusões enquanto enfrenta as dores do parto. Sua trajetória é entrelaçada com a história de dois fazendeiros rivais e orgulhosos, ambos chamados Antônio, que lutam pelo poder em meio a uma teia de vingança, traição e tragédias pessoais.
A obra destaca o cenário do interior brasileiro e a saga dos trabalhadores que ergueram Brasília com suor e sacrifício. Gil DePaula usa seu estilo detalhista para pintar um retrato das complexas interações humanas e sociais da época, onde paixões e rivalidades moldam o destino de seus personagens e refletem as transformações de uma nação. A obra combina realismo com uma narrativa de intensa carga emocional, capturando tanto a grandeza da construção da capital quanto as pequenas tragédias pessoais que marcaram sua fundação.
Para saber mais sobre o livro ou adquirir uma cópia, você pode encontrá-lo em sites como o Clube de Autores ou por meio do e-mail:
gildepaulla@gmail.com
O Baú das Histórias Inusitadas
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Terras dos Homens Perdidos
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