Sempre achei que os filmes de suspense trazem algo a mais, pois podem nos deixar com aquele friozinho na barriga, além de nos levarem a diversos questionamentos, se o filme for bem elaborado. Portanto, realizei essa seleção de filmes de suspense, que sem dúvidas fazem nosso coração palpitar um pouco mais forte ou nos surpreendem.
Amnésia (2000)
Amnésia (2000)
Leonard (Guy Pearce) e sua esposa (Jorja Fox) são atacados por um ladrão. Ele é ferido, e a esposa morre. Agora este homem busca vingança… Essa seria uma história comum, se o personagem não sofresse de perda de memória recente, e se não fosse contada de trás para frente, ou seja, da última à primeira cena. O espectador descobre junto do herói o que realmente aconteceu.
Christopher Nolan sabe embaralhar as passagens da história como ninguém (vide A Origem, Interestelar), e neste filme usa um recurso simples, que funciona muito bem. De todas as centenas de suspenses com personagens sofrendo de perda de memória, este é certamente um dos que mais marcou o gênero.
Janela Indiscreta (1954)
Janela Indiscreta (1954)
Vamos ser sinceros: Alfred Hitchcock tem tantos clássicos que merece uma matéria especial só para ele. Mas para citar apenas uma obra para representar sua brilhante filmografia, ficamos com a ótima história de um fotógrafo com a perna imobilizada (James Stewart) que acredita ter visto o vizinho assassinando uma mulher. Mas como confirmar o que realmente aconteceu?
Hitchcock sabe muito bem o que esconder e o que revelar o seu espectador, deixando o público tenso do começo ao fim. Janela Indiscreta também explora o prazer de ver e ser visto – ou seja, trabalha o tema do voyeurismo como nenhum outro filme.
O Iluminado (1980)
O Iluminado (1980)
Jack Torrence (Jack Nicholson) é encarregado de cuidar de um hotel vazio durante o inverno. Ele se muda para o local com a esposa e o filho pequeno, que tem o poder de enxergar os fantasmas presentes no lugar. Aos poucos, o isolamento afeta Jack, levando-o à loucura. Ele passa a atacar a própria família. Quem não se lembra da cena do machado na porta, ou das gêmeas no fim do corredor?
Uma coleção de cenas antológicas, diálogos inesquecíveis, trilha sonora marcante e imagens com um rigor formal que só Stanley Kubrick poderia trazer. Jack Nicholson também faz uma progressão excelente, de um pai alcoólatra em recuperação e um maníaco perigoso.
Veludo Azul (1986)
Veludo Azul (1986)
Um quarteto amoroso entre dois personagens ingênuos e dois maliciosos: de um lado, o estudante Jeffrey (Kyle MacLachlan) e a adolescente Sandy (Laura Dern), de outro lado, a misteriosa cantora Dorothy (Isabella Rossellini) e o psicopata Frank (Dennis Hopper). Uma investigação criminal une os quatro, misturando boas doses de sexo e de violência.
Mestre das histórias surreais e simbólicas, David Lynch conseguiu filmar o roteiro dos seus sonhos, com um elenco pouco prestigioso na época. Apesar das dificuldades de produção, o hermético Veludo Azul conquistou os críticos (figurando em diversas listas de melhores filmes de todos os tempos) e também o público, com uma bilheteria respeitável para um projeto tão pequeno.
O Silêncio dos Inocentes (1991)
O Silêncio dos Inocentes (1991)
Clarice Starling (Jodie Foster) é uma agente do FBI encarregada de encontrar um perigoso assassino. Para compreender como funciona a mente de um psicopata, começa a se encontrar com o prisioneiro Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), acusado de devorar o cérebro de suas vítimas. Mas o jogo de manipulação entre os dois vai longe demais…
Um dos maiores clássicos do gênero, o filme também ajudou a criar o lendário vilão Hannibal, e comprovou mais uma vez o imenso talento de Anthony Hopkins. Foi um dos raríssimos suspenses (com pitadas de terror) a conquistar o Oscar de melhor filme, vencendo nas cinco categorias principais.
Seven
Seven
Um assassino em série passa a escolher as suas vítimas em função dos crimes capitais: uma é gulosa, a outra preguiçosa, a outra é invejosa… Uma dupla de investigadores é escolhida para o caso: um policial veterano (Morgan Freeman) e outro novato (Brad Pitt). Enquanto buscam o responsável pelos crimes, descobrem que as suas vidas e as de seus familiares estão em jogo.
Além de trazer uma história bastante original, o filme revelou ao mundo o grande cineasta David Fincher, que tinha poucos trabalhos no currículo. As cenas são tensas, as mortes são assustadoras, e a conclusão, envolvendo o personagem de Kevin Spacey, traumatizou cinéfilos no mundo inteiro.
O Bebê de Rosemary (1968)
O Bebê de Rosemary (1968)
Outro clássico absoluto. Alguns fãs classificam o filme de Roman Polanski como terror, mas a atmosfera predominante é de suspense… Afinal, é difícil determinar se a pobre Rosemary (Mia Farrow) realmente foi fecundada pelo demônio, e se todos os seus vizinhos estão de fato conspirando contra ela. A dúvida é tão grande que até hoje, muitas pessoas afirmam terem visto o bebê demônio na história.
A atuação de Mia Farrow é excelente, e a ambientação é totalmente sinistra. O tema musical, inclusive, ficou gravado entre os mais famosos da história do cinema. Vale destacar o fato de o diretor não explicar mais do que o necessário, confiando na imaginação do espectador – ao contrário de alguns suspenses cada vez mais explícitos que chegam aos cinemas atualmente.
A Marca da Maldade (1958)
A Marca da Maldade (1958)
A delicada questão do tráfico de drogas na fronteira entre o México e os Estados Unidos é o tema deste suspense, dirigido e atuado por Orson Welles. Charlton Heston interpreta o policial mexicano Ramon Vargas, encarregado de investigar perigosos chefes de gangues. Mas um corrupto detetive americano (Welles) tenta impedi-lo, enquanto a namorada de Ramon (Janet Leigh) começa a receber ameaças.
Muito antes de Birdman impressionar com seus planos-sequências, Orson Welles já fazia uso expressivo das longas imagens e das gruas. Diversos diretores renomados se inspiraram do estilo ousado de Welles, fazendo de A Marca da Maldade um dos clássicos mais citados e influentes da história do cinema, considerado o último representante do film noir.
Atração Fatal (1987)
Atração Fatal (1987)
O advogado Dan Gallagher (Michael Douglas) tem um rápido caso com a sedutora Alex Forrest (Glenn Close). Ele é casado, e não pretende levar o romance adiante, mas Alex é completamente desequilibrada, passando a ameaçar Dan e a família dele diante da possibilidade de ser abandonada. O confronto se torna cada vez mais perigoso.
O diretor Adrian Lyne é um perito no suspense erótico, tendo dirigido diversas obras famosas do gênero (Proposta Indecente, Infidelidade). Neste filme, o público é levado a entender o lado tanto de Dan quanto de Alex, tornando a relação entre eles muito mais complexa. A atuação de Glenn Close é espetacular.
Psicopata Americano (2000)
Psicopata Americano (2000)
Falando em pessoas sedutoras e desequilibradas, Patrick Bateman (Christian Bale) tem tudo que o homem moderno poderia desejar: dinheiro, sucesso comercial, uma boa aparência e lábia com as mulheres. Ah, ele também mata algumas delas de vez em quando, com facas ou serras elétricas… O filme transita entre suspense e terror, e gerou fortes polêmicas quando foi lançado nos cinemas.
Esta história extrema, baseada no livro de sucesso, faz uma crítica implacável aos homens poderosos e depravados de atualmente – algo como um Lobo de Wall Street, só que um pouco mais sanguinário. O personagem literário se tornou um verdadeiro fenômeno cultural, dando origem a sequências, séries de televisão e peças de teatro.
O Sexto Sentido (1999)
O Sexto Sentido (1999)
“Eu vejo pessoas mortas!” O pobre Cole Sear (Haley Joel Osment) tem uma boa justificativa para seus problemas de relacionamento na escola: ele é aterrorizado pela presença de espíritos. Sua mãe (Toni Collette) tenta ajudá-lo, levando o garoto ao psicólogo Malcolm Crowe (Bruce Willis). Aos poucos, os dois buscam a origem do problema.
O diretor M. Night Shyamalan ajudou a popularizar os suspenses com “surpresa no final”, ou seja, aqueles que transformam completamente a história nos últimos minutos. O final inesperado desta trama foi um fenômeno de boca a boca durante o lançamento, garantindo a segunda maior bilheteria do ano para o filme. No elenco, o pequeno Haley Joel Osment comoveu muitos espectadores com a sua atuação.
Barton Fink - Delírios de Hollywood (1991)
Barton Fink - Delírios de Hollywood (1991)
Barton Fink (John Turturro), um dramaturgo intelectual e respeitado, é contratado para escrever o roteiro de um filme B em Hollywood. Ele detesta a ideia, mas após muita pressão, aceita a tarefa. Barton se hospeda em um hotel sombrio, tendo como vizinho o misterioso Charlie Meadows (John Goodman). Enquanto tenta encontrar inspiração, o escritor tem que lidar com um assassinato inesperado em seu quarto. Charlie decide ajudá-lo a se livrar do cadáver.
Um dos melhores filmes criticando Hollywood, Barton Fink é uma pérola do humor negro, combinando o que os irmãos Coen conseguem fazer de melhor. Ninguém é poupado nesta sátira: produtores arrogantes, intelectuais prepotentes, estrelas alcoólatras… Para ajudar, o roteiro consegue guardar diversas cenas misteriosas, que deram margem a muita especulação entre os cinéfilos. Os diretores também criaram outros ótimos suspenses, como Fargo e O Homem que Não Estava Lá.
Cabo do Medo (1991)
Cabo do Medo (1991)
Depois de passar 14 anos na prisão, Max Cady (Robert De Niro) está solto novamente. Este psicopata pretende aterrorizar a família de Sam Bowden (Nick Nolte), advogado criminalista que não lhe forneceu uma boa defesa. Mas para não cometer novos crimes, o ex-presidiário toma todas as precauções para exercer a sua tortura psicológica sem violar nenhuma lei.
Na época em que Robert De Niro ainda interpretava personagens perturbados e complexos (como em Touro Indomável e Taxi Driver), ele era o maior especialista neste tipo de papéis, e faz um trabalho impressionante como Max Cady. Cabo do Medo é um dos maiores filmes do subgênero “intrusos que aterrorizam famílias”, com a direção precisa de Martin Scorsese. O cineasta tem outros ótimos suspenses no currículo, como Ilha do Medo.
O Espião que Sabia Demais (2011)
O Espião que Sabia Demais (2011)
Suspeite de tudo e de todos: essa é a regra de George Smiley (Gary Oldman), quando é encarregado de investigar os agentes secretos ao seu redor, até descobrir qual deles forneceu informações secretas aos soviéticos durante a Guerra Fria. Mas estes homens escondem muito bem as suas cartas. Como encontrar o intruso entre Colin Firth, Mark Strong, John Hurt, Benedict Cumberbatch?
Um elenco deste nível já basta para chamar a atenção, mas o grande trunfo do filme é mesmo a direção impecável do sueco Tomas Alfredson. Raros filmes de espionagem têm imagens tão bonitas, enquadramentos tão instigantes, perfeitos para esta história cheia de insinuações e duplos sentidos.
Os Suspeitos (2013)
Os Suspeitos (2013)
Um dia, as filhas de Keller Dover (Hugh Jackman) e de Franklin Birch (Terrence Howard) desaparecem. Um homem suspeito (Paul Dano) é rapidamente encontrado, mas as investigações do detetive Loki (Jake Gyllenhaal) não conseguem ligá-lo ao desaparecimento. Inconformado, Keller sequestra o rapaz suspeito, e começa a torturá-lo para obter informações. Enquanto isso, Loki descobre outros fatos assombrosos por trás do rapto das garotas.
Além de questionar a noção religiosa de justiça e de vingança, esta bela história ainda surpreende ao colocar Hugh Jackman no papel de um homem moralmente questionável. Ou seja, uma trama sombria, controversa, capaz de gerar boas discussões sobre as atitudes de cada personagem. Você seria capaz de torturar alguém para encontrar a sua filha?
À Beira do Abismo (1946)
À Beira do Abismo (1946)
Falando em film noir, este é outro título incontornável. Na história, o detetive Philip Marlowe (Humphrey Bogart) é contratado para investigar um caso de chantagem envolvendo uma família rica. Logo após aceitar o caso, o suposto chantagista morre, e a filha da família (Lauren Bacall) é encontrada drogada. Philip tenta descobrir o que realmente aconteceu, mas outras mortes começam a surgir no local.
O filme de Howard Hawks desestabilizou as plateias da época com um número impressionante de reviravoltas e sugestões, que nunca explicam totalmente alguns conflitos. Além disso, para driblar a forte censura da época, o cineasta conseguiu criar boas insinuações de violência e sexualidade.
Relíquia Macabra (1941)
Relíquia Macabra (1941)
Um investigador particular (Humphrey Bogart) é contratado para proteger Brigid O’Shaughnessy (Mary Astor) das ameaças de um homem misterioso. Uma noite, no entanto, este homem aparece morto. Aos poucos, o detetive descobre uma rede de pessoas competindo para pôr as mãos em uma valiosa estátua de falcão ornado com pedras preciosas.
Por que é ótimo? Se você assistiu À Beira do Abismo, percebeu a menção a Relíquia Macabra, que foi um sucesso tão grande a ponto de ser usado como comparação para suspenses futuros. De fato, este filme foi um verdadeiro fenômeno, sendo frequentemente incluído entre os melhores de todos os tempos. Este é um dos primeiros film noirs da história do cinema.
Um Corpo Que Cai (1958)
Um Corpo Que Cai (1958)
Em São Francisco, o detetive aposentado John ‘Scottie’ Ferguson (James Stewart) sofre de um terrível medo de alturas. Certo dia, encontra com um antigo conhecido, dos tempos de faculdade, que pede que ele siga sua esposa, Madeleine Elster (Kim Novak). John aceita a tarefa e fica encarregado da mulher, seguindo-a por toda a cidade.
Ela demonstra uma estranha atração por lugares altos, levando o detetive a enfrentar seus piores medos. Ele começa a acreditar que a mulher é louca, com possíveis tendências suicidas, quando algo estranho acontece.
Os Pássaros (1963)
Os Pássaros (1963)
Melanie Daniels (Tippi Hedren) é uma bela e rica socialite que sempre vai atrás do que quer. Um dia ela conhece o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) em um pet shop e fica interessada nele. Após o encontro ela decide procurá-lo em sua cidade.
Ela dirige por uma hora até a pacata cidade de Bodega Bay, na Califórnia, onde Mitch costuma passar os finais de semana. Entretanto, Melaine só não sabia que iria vivenciar algo assustador: milhares de pássaros se instalaram na localidade e começam a atacar as pessoas.
M, o Vampiro de Dusseldorf (1931)
M, o Vampiro de Dusseldorf (1931)
Em Berlim, diversas crianças são assassinadas por um homem que costuma cantarolar a mesma música antes de atrair cada uma delas. Os policiais não conseguem encontrar o responsável pelos crimes, e logo toda a cidade é tomada pela paranoia, unindo-se para designar suspeitos. Uma pessoa inclusive tem a ideia de escrever a letra “M”, de “mörder” (assassino) nas costas do principal suspeito, para não perdê-lo na multidão.
Aplicando o estilo expressionista, Fritz Lang conseguiu captar muito bem o sentimento de medo das cidades grandes. A escolha do humorista Peter Lorre para este papel seríssimo também foi um risco bem calculado, já que o ator ficou para sempre conhecido como o vilão do filme. O próprio Lang gostava da obra pela mensagem destinada às mães, que deveriam “ficar atentas às suas crianças”.
Livros de Gil DePaula
Livros de Gil DePaula