Crônica de Um Careta

Por Gil DePaula

Ca1 Crônica de Um Careta

Tenho que admitir: não existe “careta” mais reconhecido e assumido do que eu, e depois das explicações que darei, todos concordarão que realmente sou um “careta”. Pois, vejamos:

Sou de uma época (essa de ser de uma época é sempre boa) em que os pais ensinavam os filhos a respeitarem os mais velhos e assim criei meus filhos para que também respeitassem as pessoas mais velhas, desde que essas pessoas respeitassem a si e aos outros (que caretice).

Apesar das surras que tomei, apenas uma vez dei um tapa em um dos meus filhos, tendo com isto sofrido muito mais do que ele. Entretanto, acho necessário, para que o corretivo atinja sua finalidade, que ele deva ser aplicado na medida certa, para que a punição seja um ato de educação e defesa. Por que defesa? Defesa contra o mau-caratismo, defesa contra a violência (pode parecer estranho), defesa conta a desonestidade, etc., que possam advir da omissão por parte de pais não zelosos.

Na escola primária gostava de cantar o Hino Nacional, e até hoje sei a letra de cor (e salteado, como diria minha avó). Sou tão careta que hoje, sinto falta desse ato de patriotismo. Quando vou a solenidades, vejo poucos cantando o hino nacional.

Sou tão careta que acredito que o aluno deve respeitar os professores, e aqueles que não os respeitem devem; no mínimo, serem expulsos das salas de aula.

Tenho saudades das peladas de rua, que jogava descalço e com bolas de plástico. Tenho saudades das bolinhas de gude, do corre-corre das brincadeiras de pique, das “queimadas” (quem já recebeu uma bolada nas costas sabe o porquê do nome), e da minha mãe mandando eu entrar para casa, pois já estava passando da hora (quem tem saudades dessas coisas só pode ser careta).

O máximo que sempre me permitir foi o uso de bebidas alcoólicas, apesar dos vários amigos que gostavam de um baseado (segundo eles, quem não fumava era um careta escrachado), e quero observar que muitos deles continuam meus amigos até hoje, aliás, mantenho vários amigos da minha época de juventude (careta, careta!)

Quando não estava satisfeito no trabalho pedia para sair, e não ficava enrolando ou faltando ao serviço para forçar uma demissão como vejo muitos “espertos” fazerem.

No meu “caretismo” nunca aceitei falcatruas, nunca subornei e sempre soube o que me pertencia ou não.

No meu “caretismo” detesto que falem mal do meu país, mas concordo que se fale mal de algumas pessoas (aquelas que podem, mas não fazem nada por nossa nação).

No meu “caretismo” afirmo que amo este país mais do qualquer outro, e jamais mudaria para outro lugar.

Sou tão careta que gosto de assistir a filmes em um cinema, ler livros em casa e tomar uma “gelada” com os amigos.

Sou tão careta que estou com raiva do WhatSapp e de outras redes sociais (alguns amigos já não telefonam para mim, daqui a pouco esqueço como é voz de cada um).

Sou tão careta que estou escrevendo este texto, para amigos caretas ou não, e deixando um abraço para todos.

*Texto originalmente publicado em 2016.

Livros de Gil DePaula -- www.clubedeautores.com.br

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2 Comentários

  1. Você é normal irmão, abraços.

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