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Por Gil DePaula
Descobri, não sem certa inquietação, que carrego em mim um defeito incorrigível: sou do contra. Não por birra ou teimosia, mas por um impulso visceral que me empurra a rejeitar aquilo que fere, humilha, destrói ou silencia. Sou contra a miséria que corrói a dignidade dos esquecidos. Sou contra a corrupção que apodrece a esperança. Sou contra as doenças que ceifam vidas em filas de hospital. Sou contra a ausência de educação, de empatia e de bom senso — esse, aliás, tão em falta que quase se torna uma virtude.
Sou contra o aborto, sim, mas também sou contra o desprezo pela vida já nascida, faminta, maltratada. Sou contra toda forma de discriminação — de raça, de classe, de crença, de amor. E sou, principalmente, contra o meu silêncio, meu conformismo mascarado de prudência. Porque muitas vezes me calo quando deveria gritar.
Outro dia, a TV anunciava com pompa: “Jogador doa 100 mil dólares para crianças na África.” Aplaudi. Mas logo depois, veio o incômodo: por que não doar às crianças daqui, dessas terras onde a infância sangra em esgotos e barracos? Sou contra esse tipo de glamour que esquece o próprio quintal.
Às vezes, sou até contra meus amigos. Um deles, por exemplo, não suporta homossexuais. Perguntei o motivo. Ele respondeu apenas: “Sou contra.” E, por isso, fiquei contra ele — contra a ignorância disfarçada de convicção.
Sou contra injustiças dentro de casa: o marido agressivo, o pai ausente, o filho ingrato. E também sou contra a hipocrisia dos que distribuem gentileza nas ruas, mas espalham grosseria no lar. Sou contra quem se cala diante da dor alheia, contra quem não oferece nem um “bom dia”, nem um sorriso.
Sou contra o abandono — o dos filhos, dos velhos, dos amigos. Somos frágeis demais para desprezarmos os abraços que nos sustentam. Sou contra quem humilha o gari, o porteiro, o morador de rua, como se a dignidade tivesse endereço fixo.
E, sobretudo, sou contra quem mata — seja um ancião ou um feto, seja com armas ou com o desprezo. Até onde sei, Deus não terceirizou o direito de julgar ou tirar vidas.
Enfim, talvez meu maior defeito seja este: não conseguir aceitar o mundo como ele é. E se isso for ser do contra, então que eu seja.
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Livros de Gil DePaula
www.clubedeautores.com.br — www.editoraviseu.com.br — gildepaulla@gmail.com
Terras dos Homens Perdidos – Gil DePaula (2017)
Terras dos Homens Perdidos, de Gil DePaula, é uma ficção histórica que explora a fundação de Brasília e o impacto da construção da nova capital na vida de brasileiros comuns. A narrativa é ambientada entre 1939 e 1960 e segue o drama de Maria Odete, uma mulher forte e resiliente, que relembra seu passado de desafios e desilusões enquanto enfrenta as dores do parto. Sua trajetória é entrelaçada com a história de dois fazendeiros rivais e orgulhosos, ambos chamados Antônio, que lutam pelo poder em meio a uma teia de vingança, traição e tragédias pessoais.
A obra destaca o cenário do interior brasileiro e a saga dos trabalhadores que ergueram Brasília com suor e sacrifício. Gil DePaula usa seu estilo detalhista para pintar um retrato das complexas interações humanas e sociais da época, onde paixões e rivalidades moldam o destino de seus personagens e refletem as transformações de uma nação. A obra combina realismo com uma narrativa de intensa carga emocional, capturando tanto a grandeza da construção da capital quanto as pequenas tragédias pessoais que marcaram sua fundação.
Para saber mais sobre o livro ou adquirir uma cópia, você pode encontrá-lo em sites como o Clube de Autores ou por meio do e-mail:
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O Baú das Histórias Inusitadas
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